Luís Filipe Meira
.
Portugal deu novos mundos ao Mundo, pequena frase carregada de simbolismo que, a propósito dos Descobrimentos, aprendi há muitos anos atrás e que me ficou na memória. Frase que de alguma forma encerra o espírito de aventura e descoberta que os portugueses tinham à época e que acabou por elevar Portugal ao lugar de superpotência mundial.
O esplendor de outros tempos já lá vai e, mais recentemente, na década de 60 do século passado, esse espírito de aventura foi retomado quando dezenas de milhar de portugueses foram, como que obrigados a atravessar os Pirinéus, em busca de melhores condições de vida tentando minorar a miséria extrema em que viviam. Muitos tiveram sucesso e outros conseguiram pelo menos amealhar alguns tostões para mandar para a Terra, tendo sido essas remessas de divisas que funcionaram como o pão para a boca que a economia portuguesa necessitava desesperadamente nos anos da brasa pós 25 de Abril.
A adesão de Portugal à União Europeia em 1986, a posterior livre circulação de pessoas e bens com a criação do Espaço Schengen, a entrada no euro em 1999 e os diversos alargamentos da União Europeia que elevaram para 27 os países subscritores do Tratado, vieram baralhar completamente a politica de imigração portuguesa e não só. Recorde-se que a União Europeia ocupa 4,422.773 km, tornando-se no 7.º maior território do mundo por área. Hoje a União Europeia é uma verdadeira Torre de Babel e uma miragem para todos os descamisados do planeta.
Ora tudo isto vem a propósito da nova lei de imigração aprovada recentemente pelo Parlamento português, que mantém as quotas (?) e rejeita liminarmente a possibilidade de legalização de 80.000 ilegais que por aí vão sobrevivendo. Cria o estatuto de imigrante empreendedor, ou seja quem vier com dinheiro… é bem-vindo, os outros que procurem outros lugares para sofrer e morrer de fome…
Ora bem, onde fica a solidariedade nisto tudo? O que fazemos aos milhares de brasileiros e ucranianos que por aqui aterraram em busca de melhores condições de vida e hoje não têm dinheiro para regressar? Será que a História da presença portuguesa no Brasil está esquecida?
Portalegre não é terra de oportunidades, ainda assim no balcão do banco onde eu trabalho, e cito de memória, temos clientes oriundos do Brasil, Alemanha, Espanha, Geórgia, Roménia, Ucrânia, França, Inglaterra ou Irlanda.
Recentemente vi dois magníficos filmes que falam de relações humanas entre gente de diferentes origens.
Em Grand Torino, Clint Eastwood discorre brilhantemente sobre a difícil relação de um velho veterano da guerra da Coreia, operário reformado da indústria automóvel, e um grupo de vizinhos chineses. Simbolicamente o filme passa-se na cidade de Detroit, o coração moribundo da indústria norte-americana de automóveis.
Thomas McCarthy, em The Visitor, explora a improvável amizade de um solitário professor universitário no Connecticut, que ao regressar ao seu apartamento de Nova Iorque o encontra ocupado por um casal de imigrantes ilegais, um músico sírio e a sua namorada senegalesa.
Quaisquer destes filmes, que sintomaticamente acabam mal, mostram como duas almas empedernidas e sem horizontes renascem ao entrarem em realidades totalmente novas.
A terminar recordo que há inúmeros programas de intercâmbio no âmbito da União Europeia, que incentivam os jovens a circularem e a constatarem realidades diversas. Assim não é justo fomentar atitudes e depois fazer discriminações.
Falando em justeza, também é relevante que eu assuma que este texto não é apenas fruto de observação à distância, pois o meu filho aos 22 anos aproveitou um intercâmbio entre a Universidade de Coimbra e a Universidade de São Paulo e partiu. Sentiu-se tão bem ou tão mal, que estendeu o intercâmbio por mais um ano, e pode não ficar por aqui, pois já pensa em lançar alicerces para se instalar por lá.
Afinal as janelas de oportunidades estão a transferir-se para outras paragens.
Globalização ou imigração?
Eis a questão…
O esplendor de outros tempos já lá vai e, mais recentemente, na década de 60 do século passado, esse espírito de aventura foi retomado quando dezenas de milhar de portugueses foram, como que obrigados a atravessar os Pirinéus, em busca de melhores condições de vida tentando minorar a miséria extrema em que viviam. Muitos tiveram sucesso e outros conseguiram pelo menos amealhar alguns tostões para mandar para a Terra, tendo sido essas remessas de divisas que funcionaram como o pão para a boca que a economia portuguesa necessitava desesperadamente nos anos da brasa pós 25 de Abril.
A adesão de Portugal à União Europeia em 1986, a posterior livre circulação de pessoas e bens com a criação do Espaço Schengen, a entrada no euro em 1999 e os diversos alargamentos da União Europeia que elevaram para 27 os países subscritores do Tratado, vieram baralhar completamente a politica de imigração portuguesa e não só. Recorde-se que a União Europeia ocupa 4,422.773 km, tornando-se no 7.º maior território do mundo por área. Hoje a União Europeia é uma verdadeira Torre de Babel e uma miragem para todos os descamisados do planeta.
Ora tudo isto vem a propósito da nova lei de imigração aprovada recentemente pelo Parlamento português, que mantém as quotas (?) e rejeita liminarmente a possibilidade de legalização de 80.000 ilegais que por aí vão sobrevivendo. Cria o estatuto de imigrante empreendedor, ou seja quem vier com dinheiro… é bem-vindo, os outros que procurem outros lugares para sofrer e morrer de fome…
Ora bem, onde fica a solidariedade nisto tudo? O que fazemos aos milhares de brasileiros e ucranianos que por aqui aterraram em busca de melhores condições de vida e hoje não têm dinheiro para regressar? Será que a História da presença portuguesa no Brasil está esquecida?
Portalegre não é terra de oportunidades, ainda assim no balcão do banco onde eu trabalho, e cito de memória, temos clientes oriundos do Brasil, Alemanha, Espanha, Geórgia, Roménia, Ucrânia, França, Inglaterra ou Irlanda.
Recentemente vi dois magníficos filmes que falam de relações humanas entre gente de diferentes origens.
Em Grand Torino, Clint Eastwood discorre brilhantemente sobre a difícil relação de um velho veterano da guerra da Coreia, operário reformado da indústria automóvel, e um grupo de vizinhos chineses. Simbolicamente o filme passa-se na cidade de Detroit, o coração moribundo da indústria norte-americana de automóveis.
Thomas McCarthy, em The Visitor, explora a improvável amizade de um solitário professor universitário no Connecticut, que ao regressar ao seu apartamento de Nova Iorque o encontra ocupado por um casal de imigrantes ilegais, um músico sírio e a sua namorada senegalesa.
Quaisquer destes filmes, que sintomaticamente acabam mal, mostram como duas almas empedernidas e sem horizontes renascem ao entrarem em realidades totalmente novas.
A terminar recordo que há inúmeros programas de intercâmbio no âmbito da União Europeia, que incentivam os jovens a circularem e a constatarem realidades diversas. Assim não é justo fomentar atitudes e depois fazer discriminações.
Falando em justeza, também é relevante que eu assuma que este texto não é apenas fruto de observação à distância, pois o meu filho aos 22 anos aproveitou um intercâmbio entre a Universidade de Coimbra e a Universidade de São Paulo e partiu. Sentiu-se tão bem ou tão mal, que estendeu o intercâmbio por mais um ano, e pode não ficar por aqui, pois já pensa em lançar alicerces para se instalar por lá.
Afinal as janelas de oportunidades estão a transferir-se para outras paragens.
Globalização ou imigração?
Eis a questão…
Luís Filipe Meira
.
.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home