\ A VOZ PORTALEGRENSE: Comissão Justiça e Paz

quarta-feira, julho 15, 2009

Comissão Justiça e Paz

COMISSÃO DIOCESANA JUSTIÇA E PAZ
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Diocese de Portalegre-Castelo Branco
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VALORIZAR O AMBIENTE –
INCENTIVAR A AGRICULTURA E A FLORESTA –
COMBATER A POBREZA
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Uma particular atenção merece o trabalho agrícola, pelo papel social, cultural e económico que detém nos sistemas económicos de muitos países, pelos numerosos problemas que deve enfrentar no contexto de uma economia cada vez mais globalizada, pela sua crescente importância na protecção do ambiente natural: portanto são necessárias mudanças radicais e urgentes, para restituir à agricultura – e aos homens dos campos – o seu justo valor como base de uma sã economia, no conjunto do desenvolvimento da comunidade social (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, nº 299).

Esta transcrição vem a propósito da Cimeira do G8, dos países mais ricos do mundo, que no passado dia 8 de Julho, em Itália, discutiu o problema das alterações climáticas e pretendeu dar um forte sinal sobre a limitação de gases com efeito de estufa. Na verdade, neste mundo globalizado, estão em curso transformações ambientais, cujos efeitos degradadores já estão a fazer-se sentir em múltiplas situações que vão desde a escassez das colheitas até à diminuição da água doce em variadas zonas do globo. Ora, essas alterações decorrem de um grande objectivo que os países mais desenvolvidos elegeram: o de produzir muito com os menores custos possíveis, para que se consuma e se desperdice mais, não importando os meios, mesmos que eles acarretem a deterioração dos solos, do ar e das águas.
Por sua vez, as populações, em Portugal, cada vez mais se deslocam para as zonas do litoral, com maiores capacidades empregadoras, com um tecido industrial e de serviços mais denso ou, então, os que podem, vão emigrando. Assiste-se, assim, a uma hemorragia demográfica dos que estão na idade activa do interior para as zonas litorais, de que a Diocese de Portalegre-Castelo Branco é exemplo.
A política de subsídios à produção agrícola dos países ricos, segundo uma nota do Conselho Pontifício “Justiça e Paz”, da Santa Sé, de Junho de 2008, provocou que baixassem os preços durante décadas, e isso fez com o que os países pobres deixassem de produzir bens agrícolas próprios e dependessem das importações. O resultado é que a maior parte dos países pobres se converteu em importador de comida, com graves consequências para a sua capacidade produtiva e de inovação no sector agrícola. De certo modo, foi isso que aconteceu nas zonas agrícolas do interior do nosso País.
Também a nível da floresta temos assistido a uma degradação constante deste recurso natural, quer pela falta de cuidado na manutenção das matas, quer na preservação e definição das espécies mais adequadas.
Há, pois, que trazer de novo para este interior e, especialmente, para as zonas mais despovoadas, mediante uma formação séria, uma reconversão eficaz e incentivos apropriados, as pessoas das grandes cidades. Há que criar aqui modos de produção sustentáveis, aplicando tecnologias amigas do ambiente, gestão parcimoniosa dos recursos hídricos e modos de comercialização fluidos, com o mínimo de intermediários.
O espírito cooperativo terá que se incentivar e, aí, o Ministério da Agricultura, os Institutos Politécnicos existentes nesse interior, fundações, cooperativas, etc., poderão ter um papel importante quer de dinamização, quer de fornecimento dos instrumentos legais. Igualmente, as Escolas Superiores Agrárias, dependentes desses Institutos, em coordenação com o Ministério da Agricultura, poderiam propor as culturas mais adequadas, tendo em vista os mercados visados, ao mesmo tempo que forneceriam os apoios técnicos necessários.
Talvez esta fosse uma das vias para criar empregos, melhorar o ambiente, descongestionar os grandes centros urbanos, combater a marginalidade e a delinquência, dar sentido a vidas que andam perdidas. Talvez, assim, se ajudasse a combater a pobreza.
Cruzar os braços e estar à espera que a crise nos devore é atentar contra o desenvolvimento do País. Pior do que isso: nada fazer é desperdiçar as capacidades da terra e os dons que Deus pôs nas mãos e na mente de cada homem e de cada mulher.
Portalegre, 15 de Julho de 2009
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COMISSÃO DIOCESANA JUSTIÇA E PAZ
Diocese de Portalegre-Castelo Branco
Presidente
: Mário Silva Freire
Secretário: Mário Casa Nova Martins
Vogal: Carlos Juzarte Rolo
Vogal: Elicídio Dinis Bilé
Assistente Religioso: Padre Marcelino Dias Marques