Relações
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Mais de 60% das pessoas que reencontram os primeiros namorados voltam a apaixonar-se por eles. Muitas deixam empregos e casamentos estáveis para voltarem a viver uma paixão da adolescência. Os especialistas dizem que estas relações são mais duradouras do que as iniciadas já na vida adulta.
Por Catarina Serra Lopes
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Já passava das 6h da manha quando tocou o telemóvel com o aviso de uma mensagem nova. Margarida Ribeiro, 29 anos, psicóloga, pegou no telefone, abriu a mensagem e ficou boquiaberta. No ecrã, uma frase curta: “Que saudades!” Como remetente, um número desconhecido. “Fui apanhada de surpresa, não fazia ideia de quem seria.” E mais surpreendida ficou quando, dois dias depois, numa conversa entre amigos, descobriu que aquele número de telemóvel pertencia ao seu primeiro namorado, o Tiago.
“Eu tinha 14 anos, ele 15 e éramos colegas no liceu de Santarém. Apaixonei-me, mas ele ainda era muito miúdo. Andámos três anos a fingir que namorávamos, mas ele não levava as coisas a sério”, lembra Margarida. Com o fim do liceu, veio o fim do namoro. Tiago continuou a estudar em Santarém, Margarida foi para a Faculdade de Psicologia em Lisboa. “Nunca mais nos vimos. Fiquei muito triste, mas a vida continuou.”
Passaram dez anos. A psicóloga acabou por ficar em Lisboa depois do curso terminado e Tiago continuou por Santarém. “Arranjei um bem emprego, comprei uma casa giríssima, estava feliz da vida”, recorda Margarida.
Mal soube quem era o autor do SMS, ficou “nervosa”. Depois de pensar muito, resolveu dizer que também tinha saudades. “O que era uma grande verdade”, admite. Marcaram logo um jantar de reencontro. “Não parávamos de falar. Mal nos vimos, sentimos logo a empatia que sempre tivemos. Às tantas éramos os únicos na sala. Os empregados do restaurante não repararam na nossa presença, fecharam tudo e foram-se embora. Só conseguimos sair porque a porta não estava trancada por dentro.”
Daí em diante, tudo correu ainda melhor. “O Tiago mantinha tudo aquilo por que me tinha apaixonado, mas estava mais maduro.” No espaço de ano e meio, Margarida vendeu a casa, despediu-se do emprego e mudou-se para Santarém. Tiago comprou um anel de noivado e pediu-a em casamento, de joelho no chão, como manda a tradição. Casaram-se no dia 5 de Maio.
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NÃO SÃO UM CASO ÚNICO. De acordo com o estudo levado a cabo pela psicóloga americana Nancy Kalish, mais de 60% das pessoas que reencontram os seus namorados da adolescência voltam a apaixonar-se por eles. Kalish defende que isto se deve ao facto de o primeiro amor ser normalmente vivido na adolescência, em plena euforia hormonal, o que faz com que as coisas tenham mais intensidade.
Thomas Lewis, psiquiatra americano e autor do livro A Teoria Geral do Amor, concorda com Kalish. “O cérebro de um adolescente está exposto a altos níveis de testosterona e progesterona, as hormonas envolvidas na libido. Toda esta intensidade sexual faz com que as relações da adolescência assumam uma força única e criem um modelo de amor que acompanha as pessoas pela vida fora.”
Jennifer Beer, professora de Psicologia da Universidade da Califórnia e autora de vários estudos sobre a matéria, diz mesmo que “o primeiro amor pede influenciar todas as futuras relações amorosas que se possa vir a ter. Há pessoas que passam a vida à procura de alguém igual ao seu primeiro namorado”. É natural que, se o reencontrarem, voltem a sentir paixão. E se casarem, têm 98,5% de hipóteses de viverem juntos para sempre, diz Nancy Kalish.
Mas nem todas são histórias felizes. A psicóloga Sónia Vidal é testemunha de alguns destes casos. “A Internet tem permitido às pessoas encontrarem antigos amores. O problema é que, às vezes, eles estão casados com outras pessoas. Aí pode-se sentir tudo outra vez: rejeição, abandono, tristeza.” Foi o que aconteceu com Inês, 33 anos, advogada. Depois de uma paixão por um colega de liceu aos 18 anos, voltou a reencontrá-lo no hi5, a comunidade virtual da Internet que promove o encontro de pessoas. “Começámos a mandar emails e percebi logo que nunca o tinha esquecido.”
O problema é que o antigo amor estava casado e à espera do primeiro filho. “Chegou a confessar-me que ainda gostava de mim, mas não podia deixar a mulher grávida. Foi à sua vida. Fiquei muito triste, mas não posso fazer nada. Cheguei tarde demais”, afirma Inês.
Já Sara e Ricardo - que foram namorados quando tinham 16 anos - reencontraram-se aos 40 numa festa de amigos e não resistiram. “Estávamos casados com outras pessoas há mais de dez anos mas, mal nos vimos, bastou o primeiro olhar para percebermos que aquilo que existe entre nós é mais forte do que tudo”, conta Sara, professora primária. Passados dois meses sobre o reencontro, foram viver juntos. Casaram há um ano e Sara já está grávida do primeiro filho dos dois. “Estamos muito felizes.”
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Já passava das 6h da manha quando tocou o telemóvel com o aviso de uma mensagem nova. Margarida Ribeiro, 29 anos, psicóloga, pegou no telefone, abriu a mensagem e ficou boquiaberta. No ecrã, uma frase curta: “Que saudades!” Como remetente, um número desconhecido. “Fui apanhada de surpresa, não fazia ideia de quem seria.” E mais surpreendida ficou quando, dois dias depois, numa conversa entre amigos, descobriu que aquele número de telemóvel pertencia ao seu primeiro namorado, o Tiago.
“Eu tinha 14 anos, ele 15 e éramos colegas no liceu de Santarém. Apaixonei-me, mas ele ainda era muito miúdo. Andámos três anos a fingir que namorávamos, mas ele não levava as coisas a sério”, lembra Margarida. Com o fim do liceu, veio o fim do namoro. Tiago continuou a estudar em Santarém, Margarida foi para a Faculdade de Psicologia em Lisboa. “Nunca mais nos vimos. Fiquei muito triste, mas a vida continuou.”
Passaram dez anos. A psicóloga acabou por ficar em Lisboa depois do curso terminado e Tiago continuou por Santarém. “Arranjei um bem emprego, comprei uma casa giríssima, estava feliz da vida”, recorda Margarida.
Mal soube quem era o autor do SMS, ficou “nervosa”. Depois de pensar muito, resolveu dizer que também tinha saudades. “O que era uma grande verdade”, admite. Marcaram logo um jantar de reencontro. “Não parávamos de falar. Mal nos vimos, sentimos logo a empatia que sempre tivemos. Às tantas éramos os únicos na sala. Os empregados do restaurante não repararam na nossa presença, fecharam tudo e foram-se embora. Só conseguimos sair porque a porta não estava trancada por dentro.”
Daí em diante, tudo correu ainda melhor. “O Tiago mantinha tudo aquilo por que me tinha apaixonado, mas estava mais maduro.” No espaço de ano e meio, Margarida vendeu a casa, despediu-se do emprego e mudou-se para Santarém. Tiago comprou um anel de noivado e pediu-a em casamento, de joelho no chão, como manda a tradição. Casaram-se no dia 5 de Maio.
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NÃO SÃO UM CASO ÚNICO. De acordo com o estudo levado a cabo pela psicóloga americana Nancy Kalish, mais de 60% das pessoas que reencontram os seus namorados da adolescência voltam a apaixonar-se por eles. Kalish defende que isto se deve ao facto de o primeiro amor ser normalmente vivido na adolescência, em plena euforia hormonal, o que faz com que as coisas tenham mais intensidade.
Thomas Lewis, psiquiatra americano e autor do livro A Teoria Geral do Amor, concorda com Kalish. “O cérebro de um adolescente está exposto a altos níveis de testosterona e progesterona, as hormonas envolvidas na libido. Toda esta intensidade sexual faz com que as relações da adolescência assumam uma força única e criem um modelo de amor que acompanha as pessoas pela vida fora.”
Jennifer Beer, professora de Psicologia da Universidade da Califórnia e autora de vários estudos sobre a matéria, diz mesmo que “o primeiro amor pede influenciar todas as futuras relações amorosas que se possa vir a ter. Há pessoas que passam a vida à procura de alguém igual ao seu primeiro namorado”. É natural que, se o reencontrarem, voltem a sentir paixão. E se casarem, têm 98,5% de hipóteses de viverem juntos para sempre, diz Nancy Kalish.
Mas nem todas são histórias felizes. A psicóloga Sónia Vidal é testemunha de alguns destes casos. “A Internet tem permitido às pessoas encontrarem antigos amores. O problema é que, às vezes, eles estão casados com outras pessoas. Aí pode-se sentir tudo outra vez: rejeição, abandono, tristeza.” Foi o que aconteceu com Inês, 33 anos, advogada. Depois de uma paixão por um colega de liceu aos 18 anos, voltou a reencontrá-lo no hi5, a comunidade virtual da Internet que promove o encontro de pessoas. “Começámos a mandar emails e percebi logo que nunca o tinha esquecido.”
O problema é que o antigo amor estava casado e à espera do primeiro filho. “Chegou a confessar-me que ainda gostava de mim, mas não podia deixar a mulher grávida. Foi à sua vida. Fiquei muito triste, mas não posso fazer nada. Cheguei tarde demais”, afirma Inês.
Já Sara e Ricardo - que foram namorados quando tinham 16 anos - reencontraram-se aos 40 numa festa de amigos e não resistiram. “Estávamos casados com outras pessoas há mais de dez anos mas, mal nos vimos, bastou o primeiro olhar para percebermos que aquilo que existe entre nós é mais forte do que tudo”, conta Sara, professora primária. Passados dois meses sobre o reencontro, foram viver juntos. Casaram há um ano e Sara já está grávida do primeiro filho dos dois. “Estamos muito felizes.”
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COMO NUM ROMANCE
COMO NUM ROMANCE
Amor em Tempos de Cólera, de Gabriel Garcia Márquez, conta a história de Florentino e Firmina, dois jovens namorados que se separam por imposição do pai dela. Firmina casa com outro homem, tem filhos e netos. Já Firmino mantém-se solteiro e fiel às recordações do seu amor. Cinco décadas mais tarde, ela fica viúva e ele, persistente, volta a fazer-lhe a corte. Com sucesso. Ao fim de 53 anos, quatro meses e 11 dias de um amor interrompido, partem juntos numa viagem pelo mundo.
in, SÁBADO
Nº 161 – 31 DE MAIO A 6 DE JUNHO DE 2007 – ps.102/103
Nº 161 – 31 DE MAIO A 6 DE JUNHO DE 2007 – ps.102/103
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