\ A VOZ PORTALEGRENSE: Livro sobre Salazar

terça-feira, junho 12, 2007

Livro sobre Salazar

SALAZAR: OS PRIMEIROS TEMPOS
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Jaime Nogueira Pinto
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Não será uma lição de percurso democraticamente correcto, nem Salazar se preocupava que fosse
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Estou a terminar um livro, 'António de Oliveira Salazar - O outro retrato'. Com este 'outro retrato' do político dominante da História de Portugal do século XX, tento um perfil fora dos cânones do antifascismo enraivecido e ressabiado e do liberalismo 'esclarecido'; mas também da hagiografia oportunista e revivalista.
Quis, como no documentário dos 'Grandes Portugueses', 'historicizar' e explicar Salazar e a História de Portugal doseu tempo. Que é uma História da Europa, apesar da 'marginalidade' e 'periferia' económico-sociais.
É uma 'história da Europa' porque entra no ciclo anti-liberal e antiparlamentar, aberto pela Grande Guerra e pela Revolução de Outubro (1917), pelo fascismo italiano, pelas reacções anticomunistas da Polónia, da Hungria e dos Países Bálticos, da Alemanha de Weimar; e de Primo de Rivera em Espanha.
O 28 de Maio é de 1926, está nesta linha. Se Sidónio Pais não tivesse sido assassinado em 1918, a sua experiência de nacionalismo popular e autoritário teria feito de Portugal o percursor do fascismo. Mas as esquerdas radicais sempre liquidaram, as experiências ordeiras - como D. Carlos e João Franco em 1908. O que aliás tentaram contra Salazar, com o atentado de Emídio Santana.
O método de Salazar para conquistar o poder não é uma lição de 'correcção democrática', nem ele se preocupava quefosse. Resolve o problema financeiro - conhecia-o bem 'tecnicamente', e sabia que ele era político, pois carecia de uma base política estável para ter solução.
Os militares garantiam-na. Deixa que se vão depurando - Gomes da Costa arruma Cabeçadas, o contemporizador com a República; depois na sua inconsequência, arruma-se a si mesmo; os democráticos, com a reacção armada de Fevereiro de 1927, levam o regime a endurecer, consolidando a Ditadura.
Mas quem são os militares? Quem manda nos militares que mandam no país? Salazar percebeu, por intuição e informação, que são os jovens tenentes, capitães, majores. Em Braga, os mais graduados que se põem ao dispor de Gomes da Costa, são dois majores: Mendes Norton e Fernando Pereira Coutinho. São estes quadros médios, como Alfredo MoraisSarmento, Pinto Correia, Jaime Baptista, Luz de Brito e o incontornável Passos e Sousa, que comandam a tropa e ditamas decisões, primeiro no campo de Sacavém, depois nas unidades operacionais do Governo Militar de Lisboa.
Salazar entende-se com eles; Carmona é uma solução cómoda, para manter as hierarquias e as aparências. Mas quem ficaa mandar na tropa, mais tarde, é Santos Costa. Outro capitão.
Depois dos militares vencerem as esquerdas. Salazar disciplina 'as direitas'. Católicas, monárquicas, conservadoras,fascistas - ele endireita-as segundo a sua vontade e desígnio. Política só a fará ele. E vai gerir a 'grande política' naGuerra de Espanha e na Guerra Mundial e criar as condições para, a partir de 1950, o período de maior crescimento histórico da economia nacional. Até 1974.
in, Expresso, 09 de Junho de 2007
52 PRIMEIRO CADERNO