\ A VOZ PORTALEGRENSE: D. Augusto César

quinta-feira, abril 19, 2007

D. Augusto César

O rosto do 'pecado'
(À luz da Bíblia e da Mensagem de Fátima)
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Contraste com a santidade e o amor
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A ideia de 'pecado' incomoda-nos por dentro; e, por isso, apetece-nos rejeitá-la ou mesmo esquecê-la, para evitarmos pesadelos. A moda, porém, gosta de chega mais longe, ensinando a repetir o mal, a ver se ele se confundecom o bem (como se a ilusão deixasse sabor a paz!).
De facto, o pecado é sempre um atentado contra a santidade e o amor de Deus, que é infinitamente justo e bom.Trata-se, naturalmente, do pecado consciente e deliberado; pois, é esse que inclui a rejeição de Deus e, também, uma certa revolta. A rejeição, com efeito, perturba o discernimento e disfarça o ideal; e a revolta parte dum juízo precipitado que confunde a pessoa com o seu agir. Ora, num e noutro caso, a relação com Deus é afectada, rebelando-se a criatura contra o seu Criador. Não se trata, pois, de um mero transtorno humano; mas de uma ofensa à justiça e ao amor de Deus.
Entretanto, chegando o tempo da promessa, o Messias anunciado vem reconciliar o homem com Deus, isto é, vem libertá-lo do pecado (cf.Mt.1,21). Ele conhece bem a sua malícia (embora nunca o tenha experimentado) à luzda santidade de Deus e dos Seus critérios, que partilha de forma vivencial e em total comunhão (cf.Mt,5, 8 e 48). Daí, o apelo à rectidão do coração, que não admite hipocrisia nem cedência às insinuações do demónio ou aos juízos segundo a carne. E os discípulos de Jesus, deixando-se atrair pelos Seus critérios, à medida que reconhecem o pecado e a desfiguração que ele produz, abrem-se à misericórdia de Deus (como o publicano, no Templo - cf.Lc.18, 9-14) e experimentam a renovação espiritual e a confiança do homem novo.
Quer dizer, a malícia do pecado, vista à luz da santidade e do amor de Deus, só pode ser compreendida suficientemente (até ao fundo), por Aquele que faz a experiência da mesma santidade e do amor de Deus,isto é, Jesus o Salvador! Ao mesmo tempo, o pecado ofende a Deus porque desvaloriza o homem ou não aprecia a condição humana na sua autonomia responsável e criadora. S. Paulo exprime-se do seguinte modo: "A lei é espiritual, mas eu sou carnal... E, quem me libertará deste corpo de morte?" (Rom.7,14-25). A seguir, dá a resposta,cheio de convicção: É "Cristo Jesus que veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro" (1Tim.1,15)! Santa Teresinha, por sua vez, faz a seguinte oração cheia de humildade e de solidariedade: 'Vossa filha não pode deixar de dizer em seu nome e em nome de seus irmãos: tende piedade de nós. Senhor, porque somos pobres pecadores”! E os Pastorinhos de Fátima, à luz da mensagem da Senhora, comprometem-se a não pecar, oferecendo suas vidas pela conversão dos pecadores! Na realidade, o homem sempre se reconheceupecador, mas não de maneira uniforme. Pois, em cada época e civilização, pode haver um estilo próprio e característico de pecar; uma vez que no pecado, o homem também reflecte algumas características de amar ede pensar da sua época. E qual será a marca predominante ou mais acintosa do nosso tempo? Decerto, não é uma só (basta ver os estragos da droga, do terrorismo, etc.); em todo o caso, a chamada 'autonomia laica' faz estragos imprevisíveis, pois, enjeita qualquer forma de autoridade e vai projectando o 'eu' moderno à conta duma respiração cheia de ambições e de algumas convicções disfarçadas. Na realidade, quando o homem se julga medida de si mesmo e pretende medir a Deus, loca a arrogância num nicho e ajoelha diante dela. E, assim, o sabor do egoísmo e da idolatria aparece, como tentação, desde o princípio.
D. Augusto César Alves Ferreira da Silva
Bispo Emérito de Portalegre - Castelo Branco
in, Voz da Fátima, 2007-04-13, p.7