Opinião
Nos últimos anos tive oportunidade de visitar Angola algumas vezes. Independentemente do juízo de valor que cada um é livre de fazer relativamente à situação política que aí se vive, não é possível subestimar o progresso que em Angola se sente. Uma nação destruída por quarenta anos de conflitos - quase trinta de guerra civil - vai dando lugar a um país em paz, ainda chocante na sua pobreza, mas com uma vitalidade só própria de quem quer agarrar o futuro.
Primeiro na Compal, agora na Unicer, pude perceber a relação única que os angolanos têm com os portugueses. Não desvalorizando traumas passados, em nenhum outro lado do Mundo, creio, Portugal é tido como referência tão elevada de qualidade. As marcas portuguesas - sejamos clubes de futebol, as empresas de construção, os produtos de consumo, as televisões ou os bancos - fazem parte do modo de vida angolano.
É curioso, porque fico com a sensação de que nós, portugueses, não esperávamos este acolhimento angolano. Nas duas empresas que referi, a dimensão do sucesso angolano não foi exactamente planeada - aconteceu. E, subitamente, houve o enorme mérito de saber aproveitá-la.
Os políticos andaram a década de 90 a falar das miraculosas oportunidades empresariais no Brasil. Quantas empresas portuguesas, das que investiram na América do Sul, conseguiram obter retorno adequado dos seus investimentos? Depois do Brasil, a classe política virou o seu discurso para Espanha. Quantas marcas portuguesas são líderes e consumidas pêlos espanhóis como se fossem as melhores do mundo?
Angola é hoje uma terra de oportunidade para os portugueses. Com regras bem diferentes de outrora, evidentemente. Fugidos de um país que não lhes oferece futuro, vêem-se em Luanda, e em Benguela, e no Lubango, e em Huambo, portugueses jovens aproveitando as extraordinárias oportunidades que Portugal não lhes dá. E vêem-se também portugueses menos jovens, de meia-idade, desempregados ou rotulados numa vida profissional desinteressante, fazerem as malas e arribarem a Angola buscando inspiração e um segundo fôlego para uma vida, até então, encalhada. Não deixa de ser sintomático que o espírito empreendedor português volte a emigrar rumo a África, de novo. Esse espírito, essa capacidade de arriscar, empreender, adaptar-se às condições mais difíceis, é uma fonte de energia, um factor de competitividade fantástico que as empresas portuguesas têm ao seu dispor.
Faz bem o Governo português em empenhar-se no sucesso das relações políticas, culturais e empresariais com Angola. Há um caminho político a percorrer, um jogo de dar e receber, para que a oportunidade em Angola possa ser bem aproveitada. As autoridades angolanas dão sinais positivos: o Presidente é o primeiro a reforçar a importância da língua portuguesa como factor agregador da nação e Angola assumem papel cada vez mais activo na CPLP. O sucesso da relação com Angola joga-se aí — na língua e na cultura. Esse é o nosso factor maior de competitividade, aquele que resiste à adversidade. Tudo aquilo que possamos fazer para promover a educação, a cultura e a língua como factor de identidade entre os dois povos será o investimento mais rentável que alguma vez faremos por Angola e por Portugal.
Primeiro na Compal, agora na Unicer, pude perceber a relação única que os angolanos têm com os portugueses. Não desvalorizando traumas passados, em nenhum outro lado do Mundo, creio, Portugal é tido como referência tão elevada de qualidade. As marcas portuguesas - sejamos clubes de futebol, as empresas de construção, os produtos de consumo, as televisões ou os bancos - fazem parte do modo de vida angolano.
É curioso, porque fico com a sensação de que nós, portugueses, não esperávamos este acolhimento angolano. Nas duas empresas que referi, a dimensão do sucesso angolano não foi exactamente planeada - aconteceu. E, subitamente, houve o enorme mérito de saber aproveitá-la.
Os políticos andaram a década de 90 a falar das miraculosas oportunidades empresariais no Brasil. Quantas empresas portuguesas, das que investiram na América do Sul, conseguiram obter retorno adequado dos seus investimentos? Depois do Brasil, a classe política virou o seu discurso para Espanha. Quantas marcas portuguesas são líderes e consumidas pêlos espanhóis como se fossem as melhores do mundo?
Angola é hoje uma terra de oportunidade para os portugueses. Com regras bem diferentes de outrora, evidentemente. Fugidos de um país que não lhes oferece futuro, vêem-se em Luanda, e em Benguela, e no Lubango, e em Huambo, portugueses jovens aproveitando as extraordinárias oportunidades que Portugal não lhes dá. E vêem-se também portugueses menos jovens, de meia-idade, desempregados ou rotulados numa vida profissional desinteressante, fazerem as malas e arribarem a Angola buscando inspiração e um segundo fôlego para uma vida, até então, encalhada. Não deixa de ser sintomático que o espírito empreendedor português volte a emigrar rumo a África, de novo. Esse espírito, essa capacidade de arriscar, empreender, adaptar-se às condições mais difíceis, é uma fonte de energia, um factor de competitividade fantástico que as empresas portuguesas têm ao seu dispor.
Faz bem o Governo português em empenhar-se no sucesso das relações políticas, culturais e empresariais com Angola. Há um caminho político a percorrer, um jogo de dar e receber, para que a oportunidade em Angola possa ser bem aproveitada. As autoridades angolanas dão sinais positivos: o Presidente é o primeiro a reforçar a importância da língua portuguesa como factor agregador da nação e Angola assumem papel cada vez mais activo na CPLP. O sucesso da relação com Angola joga-se aí — na língua e na cultura. Esse é o nosso factor maior de competitividade, aquele que resiste à adversidade. Tudo aquilo que possamos fazer para promover a educação, a cultura e a língua como factor de identidade entre os dois povos será o investimento mais rentável que alguma vez faremos por Angola e por Portugal.
António Pires de Lima
in, PRIMEIRO CADERNO Expresso, 24 de Fevereiro de 2007 p. 44
in, PRIMEIRO CADERNO Expresso, 24 de Fevereiro de 2007 p. 44
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