\ A VOZ PORTALEGRENSE: Joaquim Veríssimo Serrão

terça-feira, novembro 21, 2006

Joaquim Veríssimo Serrão

ANA CLARA
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O Diabo - Um ano e meio depois de o Governo de maioria PS estar em funções, o País está melhor?
VERÍSSIMO SERRÃO - Achando-me no último quartel da vida e desiludido com a situação existente, a minha resposta tem muito a ver com a experiência acumulada no decurso dos anos. Quem vive da reforma e do pouco que aufere nas obras que publica, não consegue nutrir esperanças quanto ao futuro. E, nem se quer me lamento da situação em que vivo, porque nesta democracia que se ufana de o ser, vivem milhares de pessoas abaixo do patamar de uma vida decente. A mesma que lhes foi prometida por pretensos democratas que não sentem nem praticam os princípios da Justiça social. E por isso me interrogo como foi possível haver-se chegado tão baixo na distribuição da chamada riqueza nacional.
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O Diabo - Considera que este Executivo está a fazer as reformas que o País precisa, como diz o Primeiro-Ministro, ou pede e deve ir-se mais longe?
VERÍSSIMO SERRÃO - Aquando da investidura do Sr. Presidente da República, que nenhuma culpa tem na situação criada, senti esperança de que as promessas feitas pelo eng.° Sócrates poderiam ter sucesso. Confessei mesmo a este jornal, que esperava uma boa colaboração de ambos, que nada permite afirmar que não se mantenha no plano pessoal. Todavia, a defesa do interesse nacional, que o Sr. Presidente incute nos seus discursos, não alcançou correspondência nas promessas do Primeiro-Ministro, que assume cada vez mais posições duras e gravosas no teor dos seus discursos. E, embora discorde do recurso à greve, que pela insistência comicieira satura a população desprotegida, reconheço que o mal-estar social se vai agravando. Está mesmo a abrir focos de luta insanável com alguns indispensáveis sectores profissionais como são o patronato, o professorado, a banca, e por aí me fico.
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O Diabo - Concorda com os que dizem que o PS está a ocupar o espaço do centro-direita, pelas medidas mais reformistas que está a desencadear?
VERÍSSIMO SERRÃO - O que garante o sucesso de uma retoma da política é sempre uma acção nacional e eficaz para resolver os problemas mais candentes de uma população sofredora. Mas não é pedindo sacrifícios hoje e outros, porventura mais pesados amanhã que um Governo restabelece a confiança dos governados. O reformismo não se coaduna com promessas vãs e sem efeito imediato. As promessas equivalem a um jogo de intenções, quando não falsidades, por parte de quem não as vê cumpridas.
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O Diabo - Então por que motivos se anunciam?
VERÍSSIMO SERRÃO - Talvez por que um Governo de maioria absoluta sabe que não há voto numérico da oposição capaz de o derrubar. Considera-se o são patriotismo e a competência governativa do Sr. Presidente da República, que é o supremo garante da vontade da Nação, pelo que se impõe ir mais longe no diagnóstico da crise, mesmo que ao Prof. Cavaco Silva repugne utilizar tal recurso. Porque ninguém indaga as responsabilidades com que o eng.° Guterres se permitiu criar e engrossar o «monstro» cujos tentáculos estão a comprometer o nosso presente. Para não ir mais longe e falar do futuro de Portugal. As «amplas» liberdades do sistema partidário, que reconhece como único «soberano» o povo que elege os seus representantes, leva muitos a concluir que não existem culpados da situação a que Portugal chegou. Portado isso, o PSD devia provar que não é responsável pela situação financeira a que se chegou. Para que se não diga mais uma vez de que «a culpa morreu solteira»!
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O Diabo - Continuamos em crise económica, social e cultural. Ainda temos valores e desígnios nacionais?
VERÍSSIMO SERRÃO - Já hoje não serão em grande número os que se mantêm fiéis aos principais desígnios nacionais, na hora que sentimos Em ser portugueses e em falar o idioma que Camões imortalizou. A minha geração mantém actuantes esses valores do espírito e na geração que desponta o mesmo sucede. Gostamos de confessar que somos oriundos da mais velha nação da Europa. Uns tantos estrangeirados criticam-nos por sermos fiéis à divisa de Deus, Pátria e Família. Mas é algum crime acreditar em Deus, amar Portugal e pormos o nosso carinho na educação dos filhos e netos?
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O Diabo - E valores patrióticos ainda existem?
VERÍSSIMO SERRÃO - Talvez haja diminuído o número dos que amam Portugal e sentem o papel que o nosso País desenhou na história da civilização universal. As ideologias materialistas fizeram muitos desviar desse caminho de bons ideais. Mas com o decurso da vida muitos deles voltarão a sentir as vivências do passado. A aproximação da morte tomará mais forte essa ligação como os princípios em que os nossos pais nos moldaram o espírito.
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O Diabo - Enquanto historiador, como explica, que um País com 900 anos de existência esteja a viver uma crise tão profunda como a que atravessamos? A que se deve?
VERÍSSIMO SERRÃO - Por haver sido professor de História durante muitos anos, sinto a história nacional no mais fundo da alma. E, como leitor na Universidade de Toulouse de 1950 a 1960, por lá deixei marcas da história e da cultura portuguesas. A crise mental foi profunda desde a década de 1960 havendo muitos que se deixaram tentar pelas modas libertárias que vieram do estrangeiro. Muitos deles estão hoje arrependidos da tentação em que caíram. Mas a História, severa nos seus juízos, chamará patriotas aos que o foram e traidores aos que não se mostraram dignos de nascer em Portugal.
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O Diabo - Na sua opinião, a ruptura política, social, histórica e cultural que se deu com o 25 de Abril originou o início de um declínio nacional?
VERÍSSIMO SERRÃO - A História demonstrará também que o 25 de Abril foiuma tentativa para instaurar um regime do tipo soviético em Portugal. Só que os romanheiros do golpe já estavam separados um ano e meio depois. No dia 25 de Novembro, perante o malogro dessa ameaça, o major Melo Antunes ainda poupou o Partido Comunista à sanha popular. Mas cumpre pensar no seu trágico desabafo, de autêntico arrependido, antes de fechar os olhos: «A descolonização foi uma tragédia»! Mas o mal de dissolver as raízes históricas de Portugal estava feito, pelo que o declínio nacional começou com a traição que, ao tempo, se cometeu contra a verdadeira essência da nação portuguesa.
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O Diabo - Trinta e dois anos depois do 25 de Abril já é possível fazer um balanço histórico da «revolução dos cravos»?
VERÍSSIMO SERRÃO - No princípio de 1974 a situação militar estava ganha em Angola e Moçambique, oferecendo apenas dificuldades na Guiné onde a orografia do terreno, em certos locais, era favorável aos grupos de insurreição apoiados por Dakar e pela Guiné-Conacri. Mas a diplomacia portuguesa tinha condições para negociar tratados de paz com condições dignas de razão portuguesa. Quando os senhores do M.F.A, esquecendo o juramento de honra que tinham feito, se revoltaram contra o poder constituído, perderam a razão política e jurídica que assistia a Portugal. Ou seja, conceder independências com condições para fazer novos Brasis em Africa. A democracia então restaurada foi apenas um meio de implantar governos de essência marxista. Veio depois a desgraça de quase trinta anos de guerra civil em Angola, de quase dez em Moçambique e dos horrores da Guiné onde 2000 fulas fiéis a Portugal foram fuzilados sem que as autoridades portuguesas lhes tivessem valido. É mais uma ignomínia que sujará para sempre o Movimento das Forças Armadas.
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O Diabo - Há quem diga que faz falta a Portugal um «novo Salazar». Concorda?
VERÍSSIMO SERRÃO - O Dr. Oliveira Salazar pôde realizar a sua obra de saneamento financeiro porque tinha o apoio das forças militares. Criou um País novo na resolução das carências que o afligiam, e com a maior competência e isenção que um estadista pode ter na sua política paternalista para não lhe chamar de autoridade. O Dr. Salazar impediu a União Soviética de perturbara vida portuguesa, pelo que teve de reforçar os mecanismos de defesa. Ninguém pode arrancar o seu nome do grande livro da História de Portugal, que serviu com dedicação e aprumo. A propósito: quando acaba a graçola popular de chamar 25 de Abril à ponte sobre o Tejo, que tinha o seu nome? Não vêem os responsáveis políticos que as se colocam mal ao permitir que se mantenha uma designação contrária à verdade da História?
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O Diabo - O 25 de Abril foi um dos momentos histórico-políticos mais marcantes do País nas últimas décadas. Mudamos para melhor ou para pior?
VERÍSSIMO SERRÃO - Pergunto apenas: Qual era o País do tempo que tinha as suas finanças mais estáveis? O escudo era a terceira moeda do mundo, cobiçada em todos os bancos e postos de câmbio. No dizer de Valdez dos Santos, o nosso País era «uma pequena Suíça», com os investidores a colocarem aqui o seu dinheiro, num clima produtivo e da maior confiança. Não havia desempregados nem miséria visível e a própria emigração era impulsionada pelas correntes de oposição apenas para desacreditar o regime. Mas quem pode negar que a humana governação do Prof. Marcelo Caetano merecia o apoio da população?
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O Diabo - Concorda com a ideia de que os portugueses vivem demasiado agarrados aos seus feitos passados em vez de olharem para o futuro?
VERÍSSIMO SERRÃO - Tendo a alma «em pedaços, espalhada pelo Mundo», que nos resta hoje senão viver uma crise de saudade, no regresso forçado ao pequeno solar do Atlântico? A isso força quem sente a consciência tranquila por haver cumprido até à exaustão o seu destino universal. Nenhuma outra nação colonizadora pode exprimir tanto o seu orgulho como comunidade humana. Resta-nos a língua que Camões imortalizou e que Pessoa endeusou como a expressão do nosso Quinto Império que as grandes potências do mundo impediram de se concretizar. Porque foram elas, tendo à frente os EUA e a União Soviética quem mais fez, desde a era Kennedy, para erguer o neo-colonialismo adverso ao espírito cristão do ecumenismo português.
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O Diabo - Há duas semanas ficou encerrado um capítulo da nossa História e quemuitos consideram ainda como um «resquício» da descolonização: Cahora Bassa. Portugal ficou apenas com 15 por cento da hidroeléctrica moçambicana. Como comenta o desfecho deste episódio?
VERÍSSIMO SERRÃO - Nada justifica que Portugal tenha perdoado 85 por cento da dívida de Cahora Bassa ao Governo de Moçambique. As dívidas pagam-se sempre, a título oficial ou apenas pessoal. Se o Primeiro-Ministro tivesse levado o assunto ao Parlamento, haveria de escutar fortes críticas por parte da oposição, mormente numa época em que Portugal precisa de endireitaras suas finanças. Não se pode ser benemerente com a República de Moçambique, que tem de pagar o encargo de Cahora Bassa em que não dispendeu um centavo. E, se amanhã, Lourenço Marques negociar com a China ou outra grande potência a parte de leão que agora lhe coube, como será possível discordar do atropelo dos direitos portugueses? Nunca o País desceu tão baixo na defesa da nossa soberania!
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O Diabo - Perdemos 1900 milhões de euros com este acordo, incluindo o perdão da dívida a Moçambique. Para um País que vive em crise, não é um exagero?
VERÍSSIMO SERRÃO - Seria condição bastante para o Governo do Eng.° Sócrates ser exonerado, no caso de a Assembleia da República estar atenta ao desvario cometido. O que não recebemos de Moçambique, o que significa o perdão concedido à antiga colónia, seria bastante para equilibrar as nossas finanças em crise. Mais do que um «exagero», trata-se de uma forma de não defender os interesses nacionais e, para mais, numa época difícil da vida financeira nacional.
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O Diabo - Após 30 anos de democracia, como analisa actualmente o sistema político em Portugal?
VERÍSSIMO SERRÃO - Se a mudança havida fosse apenas a de transformar um regime de autoridade numa democracia de tipo europeu, não seria preciso assistir às cenas de vilipêndio humano que se seguiram: a prisão de um digno e honesto Presidente do Conselho, o mais digno e prestante dos mestres de direito em Portugal; a prisão do Chefe de Estado na pessoa de um almirante espoliado do título profissional que obtivera de maneira honrada; os saneamentos de professores universitários; as prisões sem fundamento; as reclassificações de funcionários a pequena vingança atentatórias dos direitos dos cidadãos, no fundo, muitas cenas indecorosas a que assistimos e que retalharam profundamente a nossa sociedade. Dir-se-ia que o 25 de Abril vinha julgar um grupo de malfeitores apenas por não crerem nas virtudes da democracia! A conduta revanchista do Partido Comunista foi hedionda quando se recordam os factos a trinta anos de distância!Felizmente que o bom senso permitiu travar o chamado PREC que tantas injustiças e mesmo mortes de pessoas dignas ao tempo causou...
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O Diabo - A culpa da crise democrática que vivemos também é dos políticos?
VERÍSSIMO SERRÃO - Não obstante a instauração da paz social, a democracia foi seguida de conflitos nos sectores do trabalho, das opções políticas e dos diferendos humanos que se foram, entretanto, esbatendo. Se alguns políticos radicais abusaram da situação criada, a maior parte deles ganharam melhores hábitos de cidadania. O que sucede com frequência é que as promessas eleitorais nem sempre são cumpridas. Mas isso já se integra nos jogos pessoais dentro do sistema de que Portugal não é o único País a queixar-se. São os defeitos inerentes à democracia que ocorrem também noutros países e que a América do Sul conduziu ao êxito do populismo.
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O Diabo - Hoje, os cidadãos olham com «descrédito» para a classe política. Partilha da ideia de que os políticos defraudam os eleitores?
VERÍSSIMO SERRÃO - Conheço bons e maus políticos, tudo depende da preparação que mostram para a actuação partidária e em que a honestidade e o préstimo dos eleitos chegam a dar resultados satisfatórios. O que se nota é a ineficiência de governos quando carecem de nomes que asseguram o êxito da governação. Se os políticos têm nome, acabam por deixar o nome ligado a uma acção que serve realmente os interesses do País.
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O Diabo - Acha que a partidocracia está a minar os partidos e a afastar os políticos competentes?
VERÍSSIMO SERRÃO - Vejamos o que se passa como governo da Madeira, onde o Dr. Alberto João Jardim se tem dado de alma e coração à sua terra natal. Quem esteve na Madeira há 30 anos e lá volta hoje quase que não a reconhece pela onda de progresso material que a transformou. Ora, retirar à ilha, nesta altura do ano, créditos de que a mesma precisa para realizar empreendimentos, leva o Dr. Jardim a protestar de forma veemente. É a sua forma temperamental de se exprimir, que outros iguais a ele, agindo no continente, não recebem censuras, e quando o Dr. Jardim usa da palavra, o Governo, deputados, imprensa em geral, todos desancam no líder madeirense. A sua margem de vitória nas eleições regionais está hoje nos 56 porcento do eleitorado. Alguém lhe pode levar a mal que, perante a manobra de lhe diminuírem o orçamento, ele proteste e ponha o sistema em causa? É apenas para confirmar que a partidocracia mina os partidos e utiliza aspiores manhas para afastar os políticos que lhe fazem sombra.
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O Diabo - Ainda se pode falar em ideologias, tendo em conta o actual panorama partidário?
VERÍSSIMO SERRÃO - O grave na política actual é que a ideologia falseia a política dos cidadãos e conduz os eleitores no sentido que ela pretende. Impõe-se redefinir o quadro de acção dos partidos democráticos, para que os eleitores não se deixem ludibriar pelas coligações e, sobretudo, pela distinção de direita e esquerda que os sequazes deste invocam com frequência.
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O Diabo - Os partidos políticos estão descaracterizados?
VERÍSSIMO SERRÃO - Cada vez acredito menos nos partidos, porque o que para mim vale é a honestidade e competência dos que são chamados a governar. Com dez anos de governação como Primeiro-Ministro, que ajudaram a moldar um Portugal novo, o Sr. Presidente da República bem pode servir de exemplo para o que estou a dizer.
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O Diabo - Hoje a corrupção anda de mãos dadas coma política. Somos um País de corruptos?
VERÍSSIMO SERRÃO - Não somos um País de corruptos, ainda que haja forças descontroladas que se aproveitam, quando fomentam a corrupção na vida económica. Talvez o fenómeno da corrupção ajude a compreender porque há pessoas que ganham salários chorudos, enquanto outros se debatem com a injustiça de não terem o suficiente para viver.
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O Diabo - É por este fenómeno que a Justiça chegou ao estado a que chegou?
VERÍSSSIMO SERRÃO - Não pretendo falar do estado a que chegou a Justiça em Portugal, embora creia que o problema radica na falta de autoridade de quem governa. Os magistrados são, por inerência, pessoas sérias e detentoras da missão de defender a verdade. Se deixam a imprensa adulterar o que dizem ou escrevem, não há maneira de repor a Justiça no esquema antigo e que a enchem de reconhecimento dos povos.
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O Diabo - O problema de Olivença continua a ser um «espinho» entre Portugal e Espanha?
VERÍSSIMO SERRÃO - Em termos da história de 1801, a região de Olivença pertence a Portugal. Mas dois séculos passados, nem a população local aceitaria um plebiscito que confirmasse a sua integração na Espanha. Gostam dos portugueses, mas preferem ser espanhóis.
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O Diabo - Portugal ainda deve ter medo de uma invasão económica espanhola?
VERÍSSIMO SERRÃO - Sou um sincero amigo da Espanha, onde tenho inúmeros amigos nas áreas universitária e cultural. Mas defendo o princípio de cada nação viver na sua própria casa, com as respectivas interdependências preservadas. Tudo o que sefaça para manter a amizade entre os dois países deve ser estimulado. Mas sem complexos de inferioridade da parte portuguesa, porque temos o orgulho bastante para nos considerarmos iguais, embora diferentes pela riqueza natural que a Espanha possui.
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O Diabo - Integrou a Comissão de Honra do actual Presidente da República na última campanha presidencial. Cavaco Silva é o Presidente de «todos os portugueses»? Como avalia, até agora, o seu mandato?
VERÍSSIMO SERRÃO - O Prof. Cavaco Silva é, na verdade, o Presidente de «todos os portugueses». Nas suas mensagens, desde que assumiu a chefia do Estado, mostrou ser o estadista melhor preparado para defender os interesses de Portugal. Não tenho ambições políticas a cultivar, e ainda menos as de ordem pessoal que ao longo da vida me deixaram indiferente, exceptuando a carreira universitária que foi a paixão da minha vida. Sei que o Sr. Presidente da República fará tudo o que estiver ao seu alcance para defender os interesses do nosso País no mundo. E que o fará coma autoridade, o conhecimento da política e o amor a Portugal que são apanágio das suas qualidades e serviços.
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O Diabo - A União Europeia vive uma das maiores crises institucionais da sua história, muito por causa de um Tratado Constitucional que muitos já dizem estar morto. Como olha para o futuro da Europa?
VERÍSSIMO SERRÃO - Não creio no futuro da Europa que excede já a sua dimensão histórica, para se realizar num amontoado de civilizações e interesses económicos. Como eu a sonhei há anos, a Europa ganhava em unir os seus ideais e objectivos à parte ocidental do continente. Era a Europa ocidental que acabava no Báltico e, como linha interior, a que vai da Grécia e, quando muito, à Polónia. Mas, a junção dos países de Leste e da Turquia otomana faz da Europa um ser artificial e sem futuro imediato. A não ser para receber os créditos da União Europeia enquanto os mesmos durarem...
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O Diabo - A meio do segundo mandato, George W. Bush perdeu para os democratas margem de manobra perante o Senado e a Câmara dos Representantes. É o princípio do fim da «era Bush» nos EUA e no Mundo?
VERÍSSIMO SERRÃO - A quase alternância no governo dos dois principais partidos nos Estados Unidos, não me perturba a mente. Se eu fosse americano, daria o meu voto ao Partido Republicano, porque se identifica melhor com os meus ideais. Mesmo que a «era Bush» sofra agora um revés, nada impede que em 2008 ou 2012 os republicanos voltem a obter o poder.