\ A VOZ PORTALEGRENSE: Israel, Os Estados Unidos e a Europa

domingo, julho 23, 2006

Israel, Os Estados Unidos e a Europa

A 14 de Maio de 1948, os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer Israel, 10 minutos depois de declarada a independência. E, embora tenha havido desaguisados - em 1956, por exemplo, Eisenhower mandou israelitas, franceses e britânicos recuar do Suez que tinham invadido -, a América esteve ao lado do Estado judeu quando países árabes tentaram, por três vezes, invadi-lo (e das três foram derrotados). Hoje, 68% dos americanos têm opinião favorável acerca de Israel, contra 23% desfavorável, e apoiam Israel contra os palestinianos por 59% contra 15%. O Presidente e o Congresso são aliados firmes de Israel, que recebe dos Estados Unidos dinheiro, armas e vetos a resoluções adversas do Conselho de Segurança da ONU. Como os Estados Unidos são o país mais forte, mais rico e, salvo a Índia, a maior democracia do mundo, o seu apoio é crucial para a sobrevivência de Israel.
Do lado de cá do Atlântico, o caso muda de figura.
Perante a reacção israelita ao rapto dos soldados, Chirac interrogou-se: não haveria intenção de destruir o Líbano? E Putin exprimiu suspeita parecida. Ora o que é certeza e não suspeita é que Hezbollah, Hamas e o Irão dos «ayatollahs» — que os inspira, financia e arma — têm a intenção expressa de aniquilar Israel e de atirar os judeus ao mar. Israel pretende derrotar militarmente o Hezbollah porque quer sobreviver e não tem confiança na vontade política e na capacidade dos seus vizinhos árabes, ou nas dos europeus, de porem pressão suficiente em Teerão e Damasco para conter a violência anti-semita. De caminho, mata civis inocentes, o que é lamentável. E tem culpas no cartório por manter território palestiniano anexado, pela construção de colonatos e por opressão dos palestinianos. Mas não será sob a ameaça de «rockets» que irá negociar.
Grande responsável desta crise é a Administração Bush. Desde que chegou ao poder, em vez de, sem abandonar Israel, ajudar as duas partes a procurarem entender-se como tinha sido prática americana, deu rédea solta a Israel e afastou-se. A sua inépcia fê-la perder influência na região e ficar com uma crise nas mãos cuja dimensão não antecipara.
Para a União Europeia, a escolha deveria ser simples.
Convém-lhe ver vingar no Médio-Oriente uma democracia parlamentar estável, como as da Europa e da América do Norte, ou ver triunfar regimes fanáticos agressivos que oprimem os seus, pregam intolerância étnica e religiosa e farão o que puderem para destruir a nossa maneira de viver?
José Cutileiro (O Mundo dos Outros)
in, Expresso, 22/7/2006, pg. 28