AA - No Centenário da Morte de António Sardinha
No Centenário da
Morte de António Sardinha
António Maria de Sousa Sardinha
nasce em Monforte a 9 de Setembro de 1888, e vem a falecer em Elvas em 10 de
Janeiro de 1925. Celebra-se este mês o centenário da sua morte.
Inicia-se nas letras,
concretamente na poesia. Na qualidade de poeta, é o autor da poesia «Lyrica de
outubro», que pelo próprio é recitada nos jogos florais luso-espanhóis de
Salamanca em 1909, conquistando a «Flor natural», prémio reservado aos poetas
portugueses.
Porém, desde muito novo que António
Sardinha também se interessa pela coisa pública, sendo nos seus tempos de
estudante em Coimbra um adversário da monarquia constitucional, defendendo como
regime a república. Todavia, pouco tempo depois, desgostoso com o rumo que
seguia a república implantada em 5 de Outubro de 1910, renega o seu
republicanismo, e no final do ano de 1912 torna pública a sua conversão à monarquia
e também ao catolicismo.
Em 1911 licencia-se em Direito
pela Universidade de Coimbra, e em 1914 funda com Hipólito Raposo e Alberto
Monsaraz a revista «Nação Portuguesa», que dois anos mais tarde dava origem ao
movimento político-social Integralismo Lusitano, e do qual foi um dos chefes
mais activos e prestigiados.
Influenciado por Maurice Barrès e
por outros nacionalistas franceses, o Integralismo Lusitano é a base do
nacionalismo. Inseriu-se no movimento de contestação anti-oitocentista. Os seus
doutrinadores citavam Paul Bourget e Charles Maurras, a escola contra-revolucionária
francesa, e também as correntes do socialismo e sindicalismo anti-parlamentar
representados por George Sorel, Édouard Berth e Georges Valois.
António Sardinha evolui da utopia
republicana para o ideário católico e monárquico. Formado no ambiente da crise
monárquica finissecular, encontra o antídoto contra o decadentismo do tempo na
promessa republicana de regeneração, democracia e progresso. Contudo, após a
implantação da república, mergulha num desencanto face ao rumo seguido pelo
novo regime, que reproduzia, nas fraudes eleitorais, no parlamentarismo estéril,
na guerra religiosa ou na impossibilidade de reformas de fundo, os vícios de
que a monarquia finda padecera. Faz então uma autêntica conversão mental,
redescobre o catolicismo e o ideal de organização política tradicional,
municipalista e corporativa, com um rei.
Como monárquico, entende ser
anti-maçon e anti-iberista. A influência da maçonaria nos destinos da Primeira
República, e o facto de muitos proeminentes maçons e intelectuais republicanos
serem iberistas, conduzem António Sardinha a uma violência verbal e escrita
contra estres dois pilares do pensamento republicano dominante, se bem que o
receio de uma intervenção espanhola em Portugal de cariz monárquico-restauracionista,
leve os republicanos portugueses a afastarem-se progressivamente do iberismo e
a acolherem-se na ‘pérfida Albion’ que outrora tanto atacaram.
O Sidonismo marcou um tempo de
maior liberdade para os ideais monárquicos, permitindo a apresentação de uma
lista monárquica ao Parlamento da República, lista essa onde está e pela qual
António Sardinha foi eleito.
Algum tempo depois do assassinato
do Presidente-Rei, os monárquicos lançam-se na aventura restauracionista
quixotesca denominada Monarquia do Norte, condenada pelo próprio rei-deposto, e
no seguimento desta, António Sardinha refugia-se em Espanha.
Regressa a Portugal vinte e sete
meses depois e torna-se director do diário «A Monarquia», onde desenvolve
intenso combate em defesa da filosofia e sociologia política tomista,
rejeitando a tese da decadência de Oswald Spengler, em defesa do catolicismo
como a base da sobrevivência da civilização do Ocidente. E assim doutrinalmente
permanecerá até ao final da vida.
Rebelde com causa, deste modo se
pode definir a curta vida de António Sardinha. Republicano na monarquia e monárquico
na república, de indiferente a tradicionalista na religião, foi um homem que
viveu a contra-corrente. Deixou obra como historiador, poeta e sobretudo
doutrinador de uma Ideia que hoje é vista como utópica, a restauração
monárquica.
António Sardinha deixou
continuadores, os Neo-Integralistas.
Continua a ser alvo de estudos,
como «António Sardinha (1887-1925) – Um Intelectual no Século» de Ana Isabel
Sardinha Desvignes, editado pelo ICS em 2006. A Editora Contra-Corrente em 2020
edita «Antologia – O Pensamento de António Sardinha», da responsabilidade de
Alberto Araújo Lima, em 2023 reedita uma obra fundamental do Autor «O Valor da
Raça», e neste ano de 2025 a obra «O Território e a Raça». E a Editora
E-Imprimatur edita a sua poesia completa «António Sardinha – Poesia», com
organização e fixação do texto por José Manuel Quintas e Manuel Vieira da Cruz,
acompanhado de um estudo académico de José Carlos Seabra Pereira, tendo saído
dos prelos em Setembro de 2024.
Passou no dia 10 deste Janeiro de
2025 o centenário da sua morte. Nas páginas do «Alto Alentejo» fica esta
Memória de uma figura ímpar da Política e da Cultura portuguesa do primeiro
quartel do século XX, quiçá, um pouco esquecida, mas que continua a ser uma
referência do Pensamento de Direita em Portugal.
Mário Casa Nova Martins
*
PS – A propósito do livro «Tronco Reverdecido» e do volume
da E-Imprimatur, diga-se que em nenhum deles consta um poema editado no jornal
«O Distrito de Portalegre», nem em nenhuma outra obra de António Sardinha, facto
merecedor de ser novamente publicado.
CRÍTICA E ARTE
O SENHOR PRIOR
_______
«… O nosso bom Prior
entregou
ontem a alma a Deus.»
D’uma carta
Morreste, bom velhinho e essa quimera,
que sempre me embalava docemente
e bem maior que tantas outras era,
vejo-a desfeita agora de repente!
Quando sorri em todo a primavera,
eu sinto a mesma dor que o outono sente,
que a árvore da desilusão se desespera
e esperança já não acho que a avivente.
Alastra-se o pomar de frutos de oiro,
e, enquanto os seca um vento mau de agoiro,
o sonho que incarnaste evoco ainda…
Se entrei por tua mão na Madre-Igreja,
quisera que ela um dia, benfazeja,
também me unisse à minha noiva linda.
Coimbra, abril, 1908.
Do livro, para breve: –
Tronco reverdecido
António Sardinha
in, O Distrito de Portalegre
Ano 25.º, Domingo, 12
de Abril de 1908. N.º 1546, pg. 3
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