O Mito dos Seis Milhões
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O Mito dos Seis Milhões
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«Portugal levou seis milhões de escravos para o Brasil» é o
título do artigo inserido nas páginas centrais do “Primeiro Caderno” do
semanário “Expresso” de sexta-feira 1 de maio de 2015.
É dito em Portugal que são seis milhões o número de adeptos
do Sport Lisboa e Benfica.
Voltando ao artigo do semanário, dito ‘de referência’, o
subtítulo afirma que 12 milhões de escravos foram transportados para a América.
Então, aos seis milhões transportados por Portugal, juntam-se outros seis
milhões agora não transportados por Portugal.
Há outros exemplos, fora de Portugal, que falam do número 6.000.000, como o exemplo que é citado no livro de Don Heddesheimer, «The First Holocaust», segundo o qual esse era o número de judeus que durante a Primeira
Guerra Mundial, 1914-1918, na Europa sofriam todos os males, utilizando-se,
então, palavras como «extermínio» e «holocausto» para descrever essa mesma
situação.
Também, com base na estimativa de que o exército do Rei
David tinha um milhão, quinhentos e setenta mil soldados, a
população da Palestina, naquela época, seria cerca de seis milhões de pessoas.
Voltando a jornais portugueses, a 27 de março passado, o “Diário
de Notícias” trazia a notícia titulada «Seis milhões de habitantes obrigados a
recolher obrigatório de três dias», referindo que “Presidente da Serra Leoa diz
que a medida é "uma oportunidade para as comunidades participarem
diretamente na luta para atingir zero casos [de Ébola] e de pensarem e orarem
para a erradicação" da doença do país”.
E no jornal “Record” de 30 de abril passado, o título da
notícia era elucidativo, «António Salvador: «Vamos ter seis milhões a torcer
por nós»». É que, dizia o Salvador, "Se o Sporting diz que tem três
milhões de adeptos, nós vamos ter seis milhões na final da Taça de
Portugal".
Muitos outros exemplos, uns mais antigos, outros mais
recentes, poderiam ser apresentados acerca do Mito dos Seis Milhões.
Mito é a projecção reactiva no espaço social da linguagem e
de outras formas sensíveis de visões fantásticas, de desejos, de terrores, de
explicações do universo e da vida, a um primeiro nível, directo e imediato, de
um modo de apreensão do real e de religião com o mesmo real sem a mediação
rigorosamente consciente da filosofia, da ciência ou da teologia. (1)
Para Rudolf Karl Bultmann, “entende-se por mito aquilo que
por tal se entende na história das religiões”. (2)
Existe uma relação entre Mito e Religião, e hoje em dia, ‘Seis
Milhões’ transformou-se numa Religião, ultrapassado a etapa de número
cabalístico.
Mário Casa Nova Martins
_______
(1) M.
Antunes, Biblos vol 3, Verbete 'Mito',
pág. 901
(2) M.
Antunes, Biblos vol 3, Verbete 'Mito',
pág. 900
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