Convento de Santa Clara de Portalegre-XI
DOS MONUMENTOS
ÀS PESSOAS - XI
O Distrito de Portalegre, N.º 5806, 19 de Novembro de 1982
Soror
Isabel do Menino Jesus
- Abadessa, que foi de Santa Clara
- Abadessa, que foi de Santa Clara
É possível que com a arrumação, por que se espera,
do imenso espólio de livros que por aí andam dispersos, vindos dos extintos
Conventos da Cidade, muitos nomes de Religiosos e de Religiosas venham para as
luzes da ribalta, e Portalegre possa tomar conhecimento dos valores que, dentro
ou fora dos seus muros, a projectaram no futuro.
Sabemos que nos Conventos se cultivava a actividade
literária e que, com maior ou menor mérito, iam surgindo obras e, portanto,
nomes – sobretudo, no campo da oratória e da mística, que, no nosso caso, como
quem diz, em referência aos Conventos de Portalegre, permanecem ignoradas.
De entre esses nomes, apontamos hoje um – a Abadessa
Clarissa do Convento de Santa Clara de nome Soror Izabel do Menino Jesus.
Foi através de um desses livros, que por aí andam
dispersos, que soubemos da sua existência.
Deixou-nos alguns dados sobre a sua vida e
descreveu-nos as suas experiências místicas com revelações, sobre cuja
autenticidade a Igreja, oficialmente, nunca se pronunciou, mas que, nem por
isso deixam de ter interesse até como expressão da mentalidade de uma época,
embora não só, mas, sobretudo, em referência ao ambiente da vida conventual.
Intitula-se o livro a que nos referimos: «Vida de Soror Izabel do Menino Jesus,
Abadessa que foi do Mosteiro de Santa Clara de Portalegre».
Na folha seguinte à do título da obra, e em que esta
se repete, vêm outros dados que transcrevemos:
«Escripta pela mesma venerável religiosa, de mandado
de seus Padres espirituaes, com outros tratados Místicos: prática para o
interior das Religiosas do mesmo Mosteiro, em que se encontrão as muitas
mercês, que Deos lhe fez, em ordem à salvação das almas, com algumas suas
cartas espirituaes. Disposta pelo M. R. Padre Fr. Martinho de S. José, Pregador
Jubilado, e Provincial da mesma província dos Algarves, que também foi seu
confessor. É dada à luz pelo Padre João Evangelista da Cruz e Costa, Bacharel
formado nos Sagrados Cânones. Lisboa, M.D.CC.LVII – Na off. de Joseph da Costa
Coimbra. Com todas as licenças necessárias».
Era Soror Izabel do Menino Jesus natural de Marvão.
Mas merece transcrição a página em que fala da sua terra natal., do desgosto de
aí ter primeiro servido ao mundo, antes de se consagrar a Deus; indicando ainda
quem foram seus pais.
Falando, portanto da sua vida diz: «Malogrados forão
os princípios della; porque tendo alguns ensaios, de que seria nos meus
primeiros annos seva de Deos, os meus pecados escurecerão esta luz; e quando
cheguei a servir este Senhor, já o mundo estava servido de mim; e para fazer
mais expressa menção, direi primeiro a pátria onde nasci. Foi esta a Villa de
Marvão, bem conhecida por sua antiguidade.
Meus Pais Christãos, e muito tementes a Deos, de
sangue limpíssimo; meu Pai se chamava João Mourato, minha Mãi Domingas
Rodrigues, iguais na geração, e nas virtudes».
Aqui terminamos a transcrição. Por ela vemos que,
embora, em um dos pareceres, que antecede a Obra, Frei Jerónimo de Belém
«Pregador Jubilado, Examinador das Ordens Militares, Consultor da Bulla da
Santa Cruzada, Chronista, e Padre da Província dos Algarves» diga que Soror
Izabel é «huma mulher sem letras», o seu estilo é fluente, vivo, mesmo
insinuante. Pelo trecho transcrito, vemos, também, como ainda, em meados do
século XVIII, havia a preocupação de falar de um «sangue limpíssimo», como quem
diz, onde não entrou gota de sangue judaico ou mourisco. Na linguagem corrente
dizia-se: «cristão dos quatro costados».
E por hoje ficamos por aqui.
Padre Anacleto Martins
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