\ A VOZ PORTALEGRENSE: Teresa Saporiti

quinta-feira, junho 25, 2009

Teresa Saporiti

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Teresa Saporiti
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Estão “escondidos”os azulejos de S. Bernardo
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Novos espaços quebram o ritmo e a monumentalidade do magnífico espaço da Igreja do Mosteiro de S. Bernardo.
Tabiques instalados na igreja, adaptam-se às funções museológicas e a exposições realizadas recentemente, e sobrepondo outras obras às autênticas e criadas para o local.
Toda a igreja é revestida a azulejos realizados para revestirem os espaços existentes, alguns datados de 1739. Obra prima da Azulejaria Portuguesa do séc. XVIII, parte dos painéis, com as novas funções atribuídas à igreja, não são agora visíveis.
A partir duma primeira exposição, com um critério de organização muito discutível, de obras do Museu da Presidência, temos agora a Igreja de S. Bernardo a servir de palco para outras actividades.
A exposição “Uma Perspectiva do Teatro da E.S.S.L.” que fez parte das comemorações de 125 anos de existência da Escola de S. Lourenço de Portalegre, ocupou a Igreja do Mosteiro de S. Bernardo.
Mais uma vez, os azulejos foram ignorados - vários painéis continuam tapados com os já referidos tabiques, e todos eles continuam sem qualquer protecção.
É com algum receio, que assisto às novas funções atribuídas à Igreja do Mosteiro de S. Bernardo.
Porquê expôr, aqui, peças de outro museu ou de particulares, quando as autênticas e de S. Bernardo foram retiradas? Porquê não as repor nos seus primitivos locais, e a igreja ser mostrada ao público com as peças que lhe pertencem?
Nos já longos anos em que tenho dedicado parte do meu tempo ao estudo da Azulejaria, tenho assistido não só à destruição, como ao desaparecimento de conjuntos valiosos de azulejos - frontarias inteiras, lambrins, entradas, pequenos painéis, etc. Não só azulejos antigos como azulejos de autores contemporâneos, que se encontram entaipados, por vezes em lugares públicos, assumindo-se como arte pública, mas ignorados pelo público.
Valiosos conjuntos azulejares encontram-se atrás de estantes, tapados com montes de papéis, ou em espaços transformados em arrecadação não só em repartições públicas, como até em museus, tornando-se impossível o seu conhecimento bem como o seu estudo.
Na área da azulejaria, o vandalismo de uns e a ignorância, indiferença ou a ganância de outros tem contribuído para a perda de inúmeros azulejos em todo o país.
Embora no Distrito de Portalegre existam poucos casos não só de azulejaria destruída como de azulejos desaparecidos, está com certeza na memória de todos, o que se passou durante vários anos, com o painel da entrada do Hospital José Maria Grande, obra de destaque da Azulejaria Portuguesa Contemporânea, e com os painéis do Convento de S. Francisco, recentemente devolvidos à cidade pela Fundação Robinson.
Fazer exposições em S. Bernardo, trazer o público e em especial os jovens, que se pretende sejam "educados" para respeitar as obras de Arte, é louvável e são iniciativas actuais de revitalização daquele espaço.
O que não devemos permitir é que os educadores e os técnicos que hoje se ocupam dessas novas atribuições esqueçam (ou ignoram?) o valor das obras existentes no Mosteiro, como é o caso dos azulejos agora tapados.
Já é tempo de todos os portalegrenses, autoridades e cidadão comum, respeitarmos e termos orgulho do nosso património e da magnífica obra que é o Mosteiro de S. Bernardo em Portalegre e o seu conjunto azulejar.

Portalegre Junho 2009
in, Alto Alentejo, 17 de Junho de 2009, Opinião, 21