\ A VOZ PORTALEGRENSE: Crónica de Nenhures

terça-feira, abril 28, 2009

Crónica de Nenhures

36 PRIMEIRO CADERNO – Expresso, 25 de Abril de 2009
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Manual do Candidato às Europeias
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O editorial do semanário Expresso do passado sábado pode ser visto ou interpretado como um Manual do Candidato às eleições para o Parlamento Europeu, que vão ter lugar no próximo dia 7 de Junho.
Nele são enunciados um conjunto de itens que, se por um lado interessam aos eleitores, também saber-se o que pensam os candidatos sobre eles é importante para uma campanha eleitoral que à partida se prevê desinteressante para os portugueses, pese embora o seu real interesse para Portugal.
São já conhecidos os cabeça-de-lista dos principais partidos a estas eleições europeias. O BE tem o “repetente” Miguel Portas, o PCP a “repetente” Ilda Figueiredo, o PS Vital Moreira, o PSD Paulo Rangel, o CDS Nuno Melo e o PNR Humberto Nuno de Oliveira.
Um pequeno fait-divers permite dizer que os três candidatos da Esquerda são ou foram comunistas, mais ou menos ortodoxos, filiados no PCP. É curioso este facto, porque quer o PS, quer o BE, não conseguiram encontrar ninguém dentro de si, que encarne os seus Ideais desde há longa data. Portas e Vital são “cristãos-novos”, se bem que Vital Moreira tenha tido um estatuto muito superior dentro da nomenclatura do PCP que Miguel Portas.
“Lutando” entre si pelo melhor resultado à Esquerda, os dois ex-comunistas Vital e Portas e a comunista Ilda muito terão que mostrar os que os “separa”, mais do que os “une”, em termos de Europa.
Diferentes são os três candidatos da Direita. Mas, também à Direita aconteceu um fait-divers. A nomeação de Paulo Rangel para liderar a lista do PSD foi feita pelo método do “braço no ar”, um método puro do Estalinismo, que pelos vistos está a fazer “escola” no PSD.
Paulo Rangel é um político com retórica, que, se na qualidade de tribuno é excelente, em termos de conteúdo, Ideias e Valores, “aos costumes disse nada”. Desde sempre que a posição do PSD em relação à Europa é ambígua, sempre ao sabor do momento, sem ter uma linha de rumo de coerência, facto, aliás, habitual neste partido que ora é social-democrata, ora liberal, mas que é indiscutivelmente o “fruto” da ANP do Marcellismo. O seu actual europeísmo tem muito a ver com o facto de Durão Barroso ser o presidente da Comissão Europeia.
Também o CDS prima pela “incoerência” face à Europa. De eurocéptico a convicto europeísta foi um passo, dado pelo actual líder, cuja verticalidade em termos de Ética e de Princípios na Política nunca foi o seu “forte”. Nuno Melo é um “produto” do Portismo, uma “doutrina” difusa em que os Interesses se sobrepõem aos Valores, em que a manutenção, perpetuação no Poder é vista como um objectivo a alcançar por todos os meios. Hoje o CDS é um partido que defende a União Europeia, bem como o Euro, a moeda única. Apoiamos estes dois pontos.
Antifederalista é o PNR e o seu candidato, Humberto Nuno de Oliveira. Não é antieuropeu, é por uma Europa das Nações, onde seja possível que o “menor” seja ouvido e não vigore “a lei do mais forte”, isto é, que Alemanha, França e outros de dimensão aproximada decidam tudo, sem que os pequenos países tenham uma palavra a dizer. Humberto Nuno de Oliveira é um Nacionalista convicto, luta para que Portugal, país ultraperiférico, seja membro de pleno direito na União Europeia. E com estas posições concordamos.
O Tratado de Lisboa, o desemprego, a imigração, a politica externa da UE, a defesa da UE, são temas que o Expresso, e nós, gostaríamos que fossem debatidos na campanha eleitoral. Também outros assuntos como a liberdade religiosa dentro da UE, a posição da UE face aos EUA e principalmente face à Rússia, a problemática da posição da Turquia face à UE e vice-versa, devem ser objecto de clarificação.
Prevê-se uma abstenção para as eleições europeias à volta dos 70%. Se a campanha eleitoral não responder a nenhum dos problemas que assolam a União Europeia, de certeza que este valor será ultrapassado. Não era isso que queríamos.
Mário Casa Nova Martins