Cecília Meireles
Tranquila sombra
que me acompanhas,
em pedras rojas,
no ar te levantas,
acompanhando
meus movimentos,
pisada e escrava
por tanto tempo!
.
Vejo-te e choro
.
Vejo-te e choro
da companhia:
que nem sou tua
que nem sou tua
nem tu és minha.
E me pertences
e te pertenço,
mais do que à vida
e ao pensamento.
.
Sombra por sombra
.
Sombra por sombra
toda abraçada,
levo-te como
anjo da guarda.
Tens tudo quanto
me quero e penso:
- frágil, exacta.
- frágil, exacta.
(Amor. Silêncio).
.
Ao despedir-me
Ao despedir-me
do mundo humano
sei que te extingues
sem voz nem pranto,
no mesmo dia.
Preito como esse
tu, só, me rendes,
sombra que tinha!
.
Imensa pena,
.
Imensa pena,
que assim te deixo,
- ó companheira -
- ó companheira -
sem companhia!...
.
.
CECÍLIA MEIRELES*
in Obra Poética
Alma Pátria – Pátria Alma, 3.º ANO
Porto Editora, 1965, p.24
Alma Pátria – Pátria Alma, 3.º ANO
Porto Editora, 1965, p.24
* Cecília Benevides de Carvalho Meireles
(Rio de Janeiro, 7 de Janeiro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de Novembro de 1964)
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