Livro
A pouco mais de três anos do centenário da implantação da República e a pouco mais de cinco meses do centenário do Regicídio, lemos as «Memórias Inéditas da Rainha D. Amélia» de Lucien Corpecholt. A edição original é em francês, «Souvenirs sur la reine Amélie de Portugal», Paris, Pierre Lafitte, 1914, e de seguida foi feita uma tradução para inglês, em 1915, «Memories of Queen Amelie of Portugal».
Esta edição da 'Caleidoscópio' é a primeira em português. Dada a sua importância, lamenta-se que só agora estas Memórias estejam disponíveis.
É, de facto, um documento importante, se bem que há muito que indirectamente se conhecesse o pensamento da rainha D. Amélia sobre a sua estada em Portugal, primeiro como Duquesa de Bragança e depois como Rainha.
A culpa dos monárquicos na queda do Regime é apontada pela Rainha. A demagogia e cupidez dos políticos do Rotativismo, gerado pelo Constitucionalismo, mais do que a difusão dos ideais republicanos, são a raiz do 5 de Outubro de 1910 e do bárbaro acto 1 de Fevereiro de 1908.
O Regicídio, a cargo da Carbonária onde militava Aquilino Ribeiro, tem como mentores a extrema-esquerda monárquica, de que o Visconde da Ribeira Brava é a face mais visível. A implantação da República tem, mais do que a conivência dos militares monárquicos, a sua própria cobardia.
Uma Monarquia sem Monárquicos? Talvez, mas acima de tudo era uma inevitabilidade o que aconteceu, dada a situação a que a política conduzia a Nação.
Mas a Rainha também tem a sua responsabilidade no que viria a acontecer a 5 de Outubro, com o crasso erro político do afastamento de João Franco Castelo Branco.
Por outro lado, por que não dizer que a Monarquia acabara em Évoramonte, quando o Rei D. Miguel partiu para o exílio. A seguir o Regime não passou de uma República coroada.
Esta edição da 'Caleidoscópio' é a primeira em português. Dada a sua importância, lamenta-se que só agora estas Memórias estejam disponíveis.
É, de facto, um documento importante, se bem que há muito que indirectamente se conhecesse o pensamento da rainha D. Amélia sobre a sua estada em Portugal, primeiro como Duquesa de Bragança e depois como Rainha.
A culpa dos monárquicos na queda do Regime é apontada pela Rainha. A demagogia e cupidez dos políticos do Rotativismo, gerado pelo Constitucionalismo, mais do que a difusão dos ideais republicanos, são a raiz do 5 de Outubro de 1910 e do bárbaro acto 1 de Fevereiro de 1908.
O Regicídio, a cargo da Carbonária onde militava Aquilino Ribeiro, tem como mentores a extrema-esquerda monárquica, de que o Visconde da Ribeira Brava é a face mais visível. A implantação da República tem, mais do que a conivência dos militares monárquicos, a sua própria cobardia.
Uma Monarquia sem Monárquicos? Talvez, mas acima de tudo era uma inevitabilidade o que aconteceu, dada a situação a que a política conduzia a Nação.
Mas a Rainha também tem a sua responsabilidade no que viria a acontecer a 5 de Outubro, com o crasso erro político do afastamento de João Franco Castelo Branco.
Por outro lado, por que não dizer que a Monarquia acabara em Évoramonte, quando o Rei D. Miguel partiu para o exílio. A seguir o Regime não passou de uma República coroada.
MM
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Excertos
«O paradoxo é que esta princesa, classificada de “clerical”, tinha como inimigo mais violento uma determinada parte do clero português. Ele era dissoluto. A regra, estranhamente, tornou-se menos rigorosa em alguns conventos. O governo mandou fechar alguns; os monges acusaram a rainha de os ter abandonado em detrimento das ordens estrangeiras. O clero português não admitia que ela tivesse como confessor um padre inglês. Tinha sido o rei D. Luís que lho tinha dado à chegada a Lisboa. Era um santo homem. A rainha defendia-o com razão e achava cobarde abandoná-lo. As intrigas de sacristia pareciam-lhe ainda mais odiosas que as da corte.»
página 123, linhas 21 a 29
[Segundo D. Carlos] «O povo exige reformas e tem razão. São necessárias, urgentes mas impraticáveis! Impraticáveis porque o parlamento não as quer. Atingem todos os privilégios dos quais se tinham apropriado e levarão o meu pobre país à ruína!»
página 133, linhas 5 a 9
«E D. Carlos explicou como a constituição liberal, que tinha sido atribuída pelo rei D. João a Portugal em 1826, só fez com que o reino fosse entregue à corrupção, que os benefícios do poder fossem entregues a uma oligarquia ávida e sem escrúpulos.»
página 133, linhas 10 a 13
«Logo que chega ao poder, um responsável de um partido só pensa em explorar o país em benefício da sua clientela, em criar cargos para os seus protegidos e assim o Estado torna-se a vítima, o seu proveito e os despojos dos políticos.»
página 134, linhas 4 a 7
[Depois do regicídio] «Para qualquer um destes franceses, que percorreram a cidade e conversaram com muitos portugueses, não há dúvida que em Lisboa, como outrora em Versalhes, a grande conspiração, cujas cegas maquinações resultaram no assassínio do rei, nasceu no seio dos políticos da alta burguesia.»
página 150, linhas 30 a 33
[D. Amélia] Rapidamente rejeita as acusações que os seus amigos lançam contra o povo português. “Ele é bom e generoso, diz. Manteve muitos dos seus antigos valores. O que é execrável são os políticos, que o exploram! Todos os que hoje o adulam, depois de se terem prostrado perante nós, certamente é para nos atingir!” Ao falar destes, a sua voz altera-se, torna-se mais dura. A princesa não expressa ódio contra os opositores confessos do trono, mas sim desprezo pelos cobardes e traidores…»
página 173, linhas 7 a 13
Excertos
«O paradoxo é que esta princesa, classificada de “clerical”, tinha como inimigo mais violento uma determinada parte do clero português. Ele era dissoluto. A regra, estranhamente, tornou-se menos rigorosa em alguns conventos. O governo mandou fechar alguns; os monges acusaram a rainha de os ter abandonado em detrimento das ordens estrangeiras. O clero português não admitia que ela tivesse como confessor um padre inglês. Tinha sido o rei D. Luís que lho tinha dado à chegada a Lisboa. Era um santo homem. A rainha defendia-o com razão e achava cobarde abandoná-lo. As intrigas de sacristia pareciam-lhe ainda mais odiosas que as da corte.»
página 123, linhas 21 a 29
[Segundo D. Carlos] «O povo exige reformas e tem razão. São necessárias, urgentes mas impraticáveis! Impraticáveis porque o parlamento não as quer. Atingem todos os privilégios dos quais se tinham apropriado e levarão o meu pobre país à ruína!»
página 133, linhas 5 a 9
«E D. Carlos explicou como a constituição liberal, que tinha sido atribuída pelo rei D. João a Portugal em 1826, só fez com que o reino fosse entregue à corrupção, que os benefícios do poder fossem entregues a uma oligarquia ávida e sem escrúpulos.»
página 133, linhas 10 a 13
«Logo que chega ao poder, um responsável de um partido só pensa em explorar o país em benefício da sua clientela, em criar cargos para os seus protegidos e assim o Estado torna-se a vítima, o seu proveito e os despojos dos políticos.»
página 134, linhas 4 a 7
[Depois do regicídio] «Para qualquer um destes franceses, que percorreram a cidade e conversaram com muitos portugueses, não há dúvida que em Lisboa, como outrora em Versalhes, a grande conspiração, cujas cegas maquinações resultaram no assassínio do rei, nasceu no seio dos políticos da alta burguesia.»
página 150, linhas 30 a 33
[D. Amélia] Rapidamente rejeita as acusações que os seus amigos lançam contra o povo português. “Ele é bom e generoso, diz. Manteve muitos dos seus antigos valores. O que é execrável são os políticos, que o exploram! Todos os que hoje o adulam, depois de se terem prostrado perante nós, certamente é para nos atingir!” Ao falar destes, a sua voz altera-se, torna-se mais dura. A princesa não expressa ódio contra os opositores confessos do trono, mas sim desprezo pelos cobardes e traidores…»
página 173, linhas 7 a 13
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