\ A VOZ PORTALEGRENSE: dezembro 2009

quinta-feira, dezembro 31, 2009

2010


Feliz Ano Novo!
Mário

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Prazeres



Amanhãs que chegam
Sóis que aconchegam
Dias que crescem
Flores que florescem!

Corpos molhados
Cabelos entrelaçados
Olhos que desejam
Lábios que beijam!

Prazeres a sós
Quando apenas nós
Enleamos esquecidos
Momentos doridos.

Um amor sem fim
De uma dor assim
Presente sem futuro
Construir um muro.

Ambiguidade
Sem verdade
Perder a liberdade
Ficar saudade!

Mário

terça-feira, dezembro 29, 2009

nome

UM DIA PERGUNTO O TEU NOME

não te conheço,
não sei quem tu és.
quero lá saber o que pareço
jogado a teus pés.
e pensar que te conheço
só por um dia sonhar.
eras estátua em gesso,
para te adorar.


um nome tens,
qual, não sei,
desconheço.
mas em busca dele partirei,
descobrir-te-ei, sabê-lo-ei,
porque um dia te encontrarei.
e no outro teu nome perguntarei,

eu sei!
Mário

segunda-feira, dezembro 28, 2009

José Régio faleceu há 40 anos

NAS ENCRUZILHADAS REGIANAS

JOSÉ RÉGIO FALECEU HÁ 40 ANOS

José Régio, de seu verdadeiro nome José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde, no longínquo ano de 1901. Passados 24 anos, em 1925 escreveu um livro que assinala a sua revelação como poeta, perante o público e a critica: “Poemas de Deus e do Diabo”.
O seu berço foi o norte de Portugal, mas a cidade de Portalegre e o liceu Mouzinho de Albuquerque acolheram-no de braços abertos. Naquela localidade junto à Serra de S. Mamede se fixou (durante 30 anos) o poeta que, juntamente com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca fundou a Revista “Presença”. A sua actividade literária ao nível da poesia não se resume somente à obra cilada nas linhas anteriores. Publicou também “As Encruzilhadas de Deus” (1936); “Fado” (1941); “Mas Deus é Grande” (1945); “Filho do Homem” (1961) ou “Cântico Suspenso” (1968). Pode dizer-se, com toda a certeza, que atingiu a sua consagração entre os principais poetas portugueses contemporâneos. Mas o “sangue literário” não parou de correr nas veias de José Régio e este revela-se também noutras áreas como romancista, novelista, ensaísta e dramaturgo, assinando obras de relevo como “Jogo da Cabra Cega” (1934); “A Velha Casa” (com cinco volumes escritos de 1945 a 1966); “Benilde ou a Virgem Mãe” (escrito em 1947 e adaptado mais tarde ao cinema por Manoel de Oliveira) ou “Salvação do Mundo” (1955). A terra que o viu nascer despediu-se dele a 22 de Dezembro de 1969. A sua importância ao nível da literatura foi tanta, que as casas onde nasceu e viveu são hoje museus com o seu nome.

Luta do Humano com o Divino
A sua personalidade tem laivos maternais e paternais. Ao pai, um ourives de profissão, terá ficado a dever sobretudo um certo e duradouro gosto pela vida, subjacente e teimoso, mesmo nos piores momentos de desespero. Foi, no entanto, ao temperamento de Maria da Conceição Reis, que José Régio foi buscar o seu fundo humano-artístico. O poeta, que à partida (Poemas de Deus e do Diabo) arvorava eloquentemente a sua autonomia e o seu «não saber»: “Não sei por onde vou, / Não sei para onde vou, / Sei que não vou por ai” aproximava-se do fim da vida, igualmente “não sabendo” ao que chegava, mas aparentemente mais sábio, sereno e distanciado: “A pouco e pouco, vou chegando. / Não sei a quê. Sei que na tarde ruiva, / Já mal respira brando, / O vento que só raro ainda ruiva. /... / Na tarde sossegada, / Sem armas, sem escudo, / Chegando a quê? Talvez a nada. /Talvez a tudo.”
Aqui José Régio usa a confissão e a máscara. Aprofunda a revelação do seu eu a um tempo despudorado e secreto. Pergunta e responde… Qual a solução? Esta obra entra no ponto de ruptura e consegue subjugar-nos por aquilo que “não diz” mas insinua. A obra de Régio, com toda a vontade de confissão genuína, está repleta de enigmas. O edifício de clareza da sua literatura deixa-nos apenas a melancólica “certeza” de que não há certezas, de que a verdade polifacetada é mais complexa e inatingível do que sonha a nossa “vã filosofia” e de que, cada seu novo livro, não passa de mais uma tentativa de “ver tudo mais por dentro do que vira”. O grande tema de José Régio é o confronto do eu com o próprio eu. A obra Regiana abre-nos para a profundidade e complexidade de um outro eu, que poderá ser o veneno da sua tragédia. O outro poderá ser definido como “espelho” e como “ideal” – como a verdadeira imagem do que se é e implicitamente o absoluto do que se “deseja ser”.
De modo ligeiro poderemos dizer que o essencial do drama Regiano é a luta entre o humano e o divino. Dentro de si há uma tentativa de ascensão até ao absoluto (positivo ou negativo, na medida em que o absoluto do mal também poderá ser uma via). Esta via (a do mal) de atingir o absoluto é uma das originalidades de Régio. O mal não é visto simplesmente como uma tentação – “eu sou o tentador, não o tentado. A imaginação dos homens é estreita: Só aomal chamaram eles atenção. Como se Deus também não tentasse!” diz o Bobo-Anjo à Rainha sedução na peça Mário.

Deus e o Diabo
Existe um poema do livro iniciático de José Régio, “Poemas de Deus e do Diabo”, que contém germinalmente, todo o seu pensamento religioso. Nessas linhas poéticas, o autor como que faz uma transposição da cena bíblica da Tentação de Jesus no Deserto. O poeta aqui situa-se no meio de duas figuras impressionantes, a de um Homem: «Todo nu, e desfigurado» em cujo rosto exangue «as suas lágrimas corriam misturadas com o seu sangue» e a de «Alguém» que «ria um riso que espantava, / Um riso tenebroso, e cheio de atracção, / Com o fogo dentro como a boca dum vulcão!».
Este conflito dramático entre os “dois vultos desmedidos constitui, no fundo, o destino fatal de cada ser humano”. Perante esta situação o poeta adianta: “A noite em que isto foi, não sei... sei lá?”. Mais tarde, no “Cântico Negro”, o poeta voltará a reafirmar a sua convicção de que cada personalidade humana é obrigada a uma opção misteriosa entre Deus e o Diabo. Embora se refira, apenas a si próprio, está a falar de todos: “Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém” (Poemas de Deus e do Diabo). No mesmo livro Régio adianta: “Seja quem for, / (Deus ou Satanás) Quero chamar-lhe meu senhor, / Acolher-me a seus pés como um escravo”.
Este poema apresenta resíduos daquele «Satanismo», com que o Romantismo literário logrou subsistir, durante algum tempo, nas veias do primeiro Modernismo. Para José Régio, todavia, ele assume tons metafísicos. Deixa de ser uma expressão épica ou “quixotesca”, para se transformar num apelo à liberdade pessoal. O poeta associa o seu “Satanismo” ao “Cântico Negro” zaratustriano do herói, cuja glória é “Criar desumanidade! / Não acompanhar ninguém” (Poemas de Deus e do Diabo).
Na sua poesia é constante uma concepção religiosa tensional e maniqueia, avessa aos aspectos gozosos e jubilosos do cristianismo. Para conseguir uma vibração exasperada do sofrimento, José Régio cria um Cristo poético, um homem das dores que não ressuscita. Existe uma fixação, quem sabe uma contemplação do crucificado, como se não existisse um sol pascal. A vasta colecção de crucifixos que reuniu ao longo da sua vida (que estão patentes ao público nas casas
museu de Portalegre e de Vila Conde) revela-nos uma inclinação pelo lado trágico da religião crista. Um cristianismo de lamento e não de alegria pela manhã de Páscoa.
No poema “Exortação ao meu Anjo”, na Obra “As Encruzilhadas de Deus”, José Régio usa “o ferimento” típico da ansiedade. Por um lado pede “auxílio” ao seu anjo: “Quando, a meio da noite e da ansiedade, / Eu me rojar por terra e te pedir piedade”. Mas nas linhas seguintes deseja a solidão: “Não me apareças nem me fales! / Deixa-me só com o meu cálix”. Será apenas angústia poética ou busca de transcendência? Certezas não existem mas ele afirma quea terra “esconde os mais secretos dos meus gritos!”. A terra pode dissimular “o confidencial”, mas as linhas “de sangue poético” afirmaram que o “Outro” falava “por parábolas, nas vinhas, / E atraía as mulheres públicas, / Os pobres / E as criancinhas” e continuava: “Tinha um ar de iluminado” e “Falou de destinos a cumprir...” (Poema “Quando Deus fala” – As Encruzilhadas de Deus). O poeta equaciona em diversificados registos poéticos uma angustiada procura religiosa, muitas vezes, comparável a Antero de Quental. Não será isto uma real confissão na acepção mais nobre do termo!

A hipérbole de Régio
A leitura da Obra Regiana não poderá ser feita sem pausas... Tal como o autor confessou, quer em conversas quer nos seus livros, não “devemos devorar livros” e “desconfiou sempre de um tal tipo de leitor” a quem chamou de “mangeur de livres”. José Maria dos Reis Pereira foi um leitor atento, apaixonado, perspicaz e fiel aos seus amores, mas não um leitor voraz. Os textos de Camilo, Florbela, Sá-Carneiro e Proust fazem-no “perder tempo”, mas ele gosta de se demorar com os escritos, meditando-os, interrogando-os frequentemente. Em “O Príncipe com Orelhas de Burro”, romance poético-simbólico, riquíssimo em chaves e “confissões” mascaradas, um dos personagens confessará ao perplexo e desorientado Leonel: “Não tenho mais de meia dúzia (de livros). Mas são bons, não é preciso mais”. E acrescenta: “pede que te leiam algumas páginas de vez em quando; e pensa...”.
José Régio prefere saborear a leitura. E a sua literatura não merece ser motivo de deleite? Quando afirma: “A minha vida é um vendaval que se soltou, / É uma onda que se alevantou / É um átomo a mais que se animou...” Não existe nenhum sinal STOP, mas talvez fosse conveniente parar e escutar. Afinal o que é a vida? Não será, como ele salienta no “Cântico Negro”, “o Longe e a Miragem”?
Neste horizonte longínquo falta-lhe a Ressurreição ou como afirma Armindo Trevissan “Régio representa um cristianismo sem Páscoa” mas a sua obra poética “é essencialmente cristã, consideramo-la uma expressão original e válida da poesia religiosa de língua portuguesa". Evidentemente, José Régio refere-se a Cristo. Mas será este Cristo o “Logos de Deus”, que se fez Carne e habitou entre nós? Sem dúvida, não há Cristianismo sem Cristo; a questão,porém, consiste em saber se não haverá Cristos sem Cristianismo. Mas no fundo é na poesia que encontramos mais concentrado um núcleo de obsessões presente em toda a escrita do poeta, geralmente conotada com um individualismo – o célebre “Sei que não vou por aí”. Se sabe qual o caminho ou a estrada porque não utiliza essa via? Não é possível desligarmos os tormentos sinuosos do autor com a incerteza constante do enigma humano e divino.
O homem e o escritor recusava liminarmente as soluções autoritárias, de qualquer tipo, como afirmou numa missiva a seu pai, logo após as eleições presidenciais de 1949: “Para ser, como sou, contra o comunismo, também tinha de me mostrar adversário da ditadura salazarista” (José Régio, Correspondência Familiar, cit. p. 174). Os grandes valores do cristianismo, a mensagem que esse Cristo – Homem, que sempre o impressionou, trouxe ao mundo, temperavam a democracia, que não podia ser apenas formal. E se nesse regime existia alguma divindade para além desse ser supremo em que Régio acreditava, como muito bem expressou na inacabada “Confissão de um Homem Religioso”, essa divindade só podia ser a liberdade. Uma sensação de autonomia libertadora que ao mesmo tempolhe "fornecia" uma angústia no seu ser mais íntimo.
É esta insatisfação permanente que condensa na essência a palavra “poesia”. O padre Manuel Antunes é o próprio a dizer que José Régio “foi a figura literária mais completa do século XX”. Essa importância releva não apenas da estatura artística da sua escrita torrencial e reflexiva, de elevada tensão lírica e dramática, mas também do facto de o escritor ocupar um lugar predominante dentro da tradição da literatura religiosa. Um poeta açoriano (um escritor no sentido pleno da palavra) sobejamente conhecido, Vitorino Nemésio, reconhece que religião e poesia são sentidas, “embora a graus diversos, como esferas de espiritualidade”.
Acima de tudo, a personalidade literária de José Régio está longe do deslocamento situacional da escrita contemporânea. Existe uma enorme galeria de nomes que no seu sangue literato reflectem o mistério da vida e os meandros de uma procura de sentido para a existência humana, pois, como adverte Ortega Y Gasset, “a dúvida sem caminho à vista não é dúvida, é desespero” (Origen histórico de la Filosofia). A ideia de Deus habitava nele como uma percepção muito forte que o levava ao desejo insaciável de vê-la concretizada por um sinal, fosse qual fosse. Porém, essa matriz nunca chegou. Este total silêncio para quem, tão seu “amante” lhe parecia não merecer, levou-o ao desespero e à revolta.
Em conclusão: o poeta foi sempre, poeticamente, um insaciável busca dor de Deus.
Luís Filipe Santos, in Ecclesia
in, O Distrito de Portalegre, Vinde & Vede, IV, 24 Dezembro 2009

António Martinó de Azevedo Coutinho

Filho de Deus e do diabo
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Caro Mário
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Este escrito não é um mail, nem uma resposta à sua última Crónica de Nenhures, nem sequer um artigo. É apenas um testemunho público sob a forma de “aditamento” ou comentário pessoal ao seu texto. E, também, saudavelmente provocatório como essse.
É objectivamente rigoroso que estamos a viver (mais) uma efeméride regiana, dispondo esta da particular característica de ser nossa, autenticamente portalegrense. O que forçou o Dr. José Maria dos Reis Pereira ao “exílio” alentejano foi a sua condição de professor. Por estas circunstâncias, seria legítimo que Portalegre e os professores evocassem dignamente o pretexto dos 80 anos da sua chegada ao velho Liceu Mousinho da Silveira. E isto, felizmente, está a acontecer.
Tenho para com a memória de José Régio uma significativa dívida de gratidão. É por isso natural e legítimo que procure saldá-la, associando-me a tudo quanto possa dignificar a lembrança do Homem e da Obra. Como no presente caso.
Lembro a saudosa figura do Cónego Anacleto, quando afirmava que “ninguém é feliz sozinho”. Ninguém, isolado, pode fazer algo de consistente e de válido. Em 1983/84, secundando o António Ventura e o Aurélio Bentes, conseguimos levar a cabo aquilo que foi, para o tempo, a autêntica ressurreição de um Régio esquecido e desprezado, 15 anos após o seu desaparecimento físico. E fizemo-lo, recorde-se, perante o ostensivo desprezo dos autarcas da época...
Uma década mais tarde, era então presidente da autarquia portalegrense o Dr. João Transmontano, fui assessor junto do vereador da Cultura, José Manuel Barradas. Foi então que se estabeleceu com Vila do Conde um promissor protocolo de Geminação, inspirado na partilha comum da personalidade de José Régio. Os objectivos desse acordo, para além daquilo que foi então concretizado (como, por exemplo, o caso do CD José Régio por José Régio, que o Mário evocou), ficariam depois quase sempre esquecidos... ou desprezados.
As diversas e posteriores evocações ou homenagens nacionais, regionais e locais, que algumas efemérides regianas proporcionaram (ou forçaram!?), foram, com raríssimas excepções, pautadas pela vulgaridade.
Quanto ao episódio do processo judicial que envolveu o Bentes, e eu próprio, a pretexto da particular expressão comunicativa do Prof. Reis Pereira, não junto qualquer comentário. É, pessoalmente, assunto dos arquivos mortos.
O fundamental é que, agora, se pode sentir um Régio vivo como poucas vezes entre nós. O que tem acontecido e –assim o espero!– vai continuar a acontecer durante largos meses significa uma vontade autêntica de celebrar valores culturais e humanos despoletados pela evocação colectiva das vivências regianas.
E aqui associo os recentes testemunhos de gente que sentiu Régio e que é capaz de o recordar na sua dimensão de corajoso cidadão, de fino intelectual, de mestre rigoroso, de terno e solitário apaixonado, de polemista temível, de homem carregado de contraditórias genialidades, enfim, como filho de Deus e do diabo.
O que António Teixeira, António Ventura, Augusto (Tito) Costa Santos, Fernando Martinho, Florindo Madeira, Lauro António e Mário Freire connosco partilharam foi um retrato, ainda incompleto mas fiel e prometedor, desse Homem excepcional que se chamou José Maria dos Reis Pereira.
E, sobretudo, devemos ficar atentos ao que se está a passar na Escola, ali ao Ribeiro do Baco, à qual foi concedida a designação de José Régio. Ao mesmo tempo que publicamente (embora com uma escassa divulgação comunitária!) se evocava o autor da Toada, ali, vivia-se por dentro um espírito regiano, como talvez raramente se tenha praticado entre nós. A entusiástica união daquela comunidade escolar em torno de um projecto pedagógico centrado na figura e na obra de Régio afigura-se-me como a intervenção comemorativa mais consistente e mais produtiva entre todas as que se prevêem nos diversos programas em curso, porque co-participada pelas gerações que poderão garantir, no futuro, a manutenção da marca que o professor/homem de letras deixou nesta terra.
Este é o “aditamento” ao seu texto, caro Mário. E deixo-lhe um comentário final, em que expresso a minha total concordância com a sua apreciação sobre as consequências da complexa relação que Portalegre e as nossas gentes travaram com José Régio, durante a sua longa permanência entre nós. De quase tudo o que demos ou proporcionámos ao exigente cidadão –as excepções foram isso mesmo, raras e pontuais– aquilo que nele ficou foi uma definitiva e injusta amargura.
Basta recordar dois dos que foram alguns dos seus depoimentos escritos, portanto objectivos, traduzidos em excertos de cartas ao amigo e confidente Eugénio Lisboa. São datados de 1967, o primeiro oriundo do Sanatório do Lumiar, em 23 de Fevereiro:
A Portalegre, não fico devendo grande coisa. Também é sobretudo em Vila do Conde que penso para passar os últimos anos da minha vida”.
O outro excerto provém de carta datada de 12 de Abril desse mesmo ano, já escrita da terra natal:
Como agora me sinto muito sozinho em Portalegre, estou “puxando” para Vila do Conde. (...) Também tenho um convívio –afectivo e intelectual– que em Portalegre me vai faltando quase completamente”.
Esta espécie de testamento de Régio reflecte, de forma indiscutível, a súmula dos seus sentimentos mais profundos acerca da terra que o acolheu (!?) durante mais de trinta anos de uma vida de intensa participação pedagógica, intelectual e cívica. Afora a sua Toca da Boavista, D. Rosalina Vinte e Um, os seus parceiros da tertúlia do Central e alguns raros outros amigos “avulsos”, o que sobrou a Régio?
Compete-nos portanto, como póstuma compensação e por imperioso dever de cidadania, valorizar e celebrar o que nos sobrou de Régio.
É o que o Mário faz, é o que eu faço. É o que Portalegre tem obrigação de fazer.
António Martinó de Azevedo Coutinho
Portalegre, 22 de Dezembro de 2009,
o dia da morte de José Régio, 40 anos depois
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1 – Na Escola Superior de Educação, o Prof. Luís Cardoso e o cineasta Lauro António recordam Régio.
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2 – No Castelo de Portalegre, amigos de Régio (Fernando Martinho, Tito Costa Santos e Florindo Madeira) evocam-no nas imagens.
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3 – Na Escola Básica José Régio, o cartaz de uma turma do Prof. Jacinto Pascoal exprime bem as vivências do autor da Toada.
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domingo, dezembro 27, 2009

Luís Filipe Meira

Porque hoje é Domingo...
Posto de Escuta
(…) Raramente me recordo dos sonhos. Mas parece-me que algumas canções são como sonhos na medida em que adormecemos quando elas principiam e acordamos quando terminam. Conduzem-te a qualquer lado. São uma forma de hipnotismo, as melhores (…)
Tom Waits
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Em escuta na Rádio dos Sonhos, 10 canções para ouvir, sonhar com as melhores ou mastigar e deitar fora as piores. É uma questão de gosto, mas…, atenção!, porque há bom e mau gosto…
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1 - John Lennon - Imagine / 1971

2 - Nick Cave / Shane MacGowan - What a Wonderful World / 1997

3 - Né Ladeiras - Lembra-me 1 Sonho Lindo / 1997

4 - António Variações - Dar & Receber / 1984

5 - Erlend Oye - Last Christmas / 2002

6 - Pogues - Fairytale in New York / 1987

7 - Tim Hardin - If I Were a Carpenter / 1967

8 - Tom Waits - Christmas Postcard from a Hooker in Minneapolis / 1978

9 - Xana - Final do Ano / 1996

10 - John Lennon - Happy Xmas ( War is Over ) 1971
Luís Filipe Meira

Luís Filipe Meira

O histórico Hot Clube de Portugal foi palco de um incêndio com graves consequências, e que poderá ter posto em risco a manutenção daquele espaço (santuário) para os apreciadores em Portugal da Grande Música Negra. Através do músico portalegrense António Eustáquio, que chegou a actuar no Hot Clube e a participar em diversas Workshops, recebi este sentido testemunho de Luís Hilário, que desde 1985 desempenhava as funções de responsável pela programação da simpática sala da Praça da Alegria, em Lisboa.
Luís Filipe Meira
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Caros Amigos,

Como a maioria de vós deve calcular é com muita tristeza que curiosamente na véspera de Natal, vos envio este e-mail.
Não há muito que se possa dizer. O edifício onde a pequena sala de concertos do Hot Clube de Portugal está instalada há cerca de 60 anos, ardeu! O incêndio começou, tudo leva a crer, no último piso do prédio, zona devoluta, abandonada à sua sorte e sujeita a infiltrações de chuva ou de pessoas sem tecto para dormir. Apenas nós e o proprietário do restaurante que existia no piso térreo, fazíamos visitas periódicas a esses pisos para tentar na medida do possível, controlar a degradação.
Lamentavelmente, esta situação quase que era esperada. Os diferentes responsáveis da Câmara Municipal Lisboa, proprietários a quem o Hot Clube paga renda, têm vindo a ser avisados desde há muitos anos para o estado lastimável em que se encontravam os pisos superiores do edifício. A burocracia, a falta de interesse, de dinheiro, ou simplesmente a inoperância dos serviços, levaram a este triste desfecho.
A solução para o prédio e consequentemente para o Clube não está para breve.
O Hot Clube não ardeu, teve prejuízos elevados causados pela grande quantidade de água utilizada pelos bombeiros, mas o resto do edifício ficou num estado lastimável; os pavimentos dos pisos superiores caíram e só uma reconstrução total tornará o local de novo acessível. Levará anos até tudo estar pronto!
O Hot Clube não mais será o mesmo, terminou uma época e morreu um espaço emblemático que sem subsídios estatais e dificuldades sempre superadas pela “carolice”, contribuiu durante 60 anos para que o País e em particular a cidade de Lisboa, tivessem uma programação de música jazz. Fizemos algo de que gostávamos e contribuímos de uma forma desinteressada para o reconhecimento desta cidade no meio jazzístico mundial.
Não somos só nós, os que ali passaram muitas horas da sua vida, que ali criámos amizades e vivemos momentos que não esqueceremos, que nos sentimos como que órfãos e perdidos nesta cidade de escassos interesses culturais.
Também os músicos nacionais e muitos dos que nos visitam perderam um dos poucos locais onde podiam experimentar e apresentar a sua música.
Apesar de muitos não se aperceberem, somos também muitos os que ficámos a perder! E a cidade de Lisboa também!
Bom Natal para todos vós!
Abraço,
Luís Hilário
(responsável pela programação desde 1985)
Nota: Este e-mail representa um sentimento pessoal. Não é um comunicado da Direcção do Hot Clube de Portugal.

sexta-feira, dezembro 25, 2009

Luís Filipe Meira

A raça humana anda sempre a olhar para trás, para o passado, à procura da cauda perdida na evolução.
Por isso o homem não olha para o futuro e agarra-se ao que foi (e ao que não foi, mas podia ter sido, ou que gostaria que dele os outros pensassem).
PEPETELA, in A geração da Utopia
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É Natal!
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Os corações abrem-se, fala-se de solidariedade, pratica-se alguma, diz-se que isto está pior que nunca – o que se calhar é verdade –, mas também é verdade que as catedrais do consumo estão por estes dias apinhadas de gente atacada por uma perigosa febre consumista.
O mês de Janeiro, que é o mais comprido do ano está perto mas … ainda suficientemente longe para nos preocupar… A seguir à passagem de ano logo trataremos – sabe Deus como – dos problemas de tesouraria.
Talvez vá sendo é tempo de nos preocuparmos com o estado a que o planeta chegou. A Cimeira de Copenhaga foi a treta que se esperava, por muito que nos queiram fazer crer do contrário, e que só serviu para demonstrar que há inúmeras perspectivas sob a forma de encarar a questão, muitas delas inconciliáveis. Entretanto a coisa vai correndo.
Também por isso pensei deixar aqui duas sugestões cinéfilas, duas sugestões para ver em família em detrimento daqueles estafados filmes que a televisão programa para estes dias.
Reconheçam que podemos, por uma vez, dispensar o Música no Coração, Sozinho em Casa, Pretty Woman ou O Amor Acontece, e afins. A minha proposta é radical mas necessária. Nestes dias em que se fala tanto em paz e amor talvez valha a pena ver em família dois documentários que dão muito que pensar.
Uma Verdade Inconveniente é um documentário de 2007 apresentado pelo ex-vice-presidente Al Gore, onde se demonstra que o aquecimento global é uma ameaça real.
A 11ª Hora é também um documentário de 2007, produzido e narrado pelo actor Leonardo DiCaprio, que nos mostra o estado critico a que o planeta chegou, deixando-nos no entanto algumas pistas para a salvação.
Dois testemunhos, dramáticos mas fundamentais para os mais jovens perceberem que o futuro está em causa e se ficarmos à espera, não haverá futuro…
Boas Festas e Um Ano Novo Melhor.
Luís Filipe Meira
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quinta-feira, dezembro 24, 2009

Natal

Feliz Natal
Mário

Um Conto de Natal

Crónica impressão digital
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JOSÉ MANUEL DOS SANTOS
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A PRIMA
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Nesse tempo que ainda não se afastou muito de nós, as famílias, mesmo as mais ricas, tinham uma prima pobre. E até nas mais pobres havia uma prima ainda mais pobre do que elas. Essa prima era esquecida e lembrada. Numas alturas, provocava vergonha e ira: “Que desplante!, andar a dizer por todo o lado que é da nossa família.” Noutras, gerava compaixão e era usada para mostrar bons sentimentos: “Não nos podemos esquecer dela. Sempre é nossa prima, embora já afastada!...”
Para se poder olhar, com boa consciência, aquela pobreza, faziam-se genealogias da desgraça, justificando-a. Dizia-se: “O pai dela não tinha juízo nenhum. Meteu-se em negócios esquisitos!” Ou então: “O avô arruinou-se. Gastou tudo no jogo e com mulheres!” Essa prima pobre era solteira ou viúva. Vivia de uma pequena pensão, contada e gasta centavo a centavo. Quando não estava num asilo (e então era conhecida como “a prima do asilo”), morava num andar alto de um prédio sem elevador. Sofria do coração e vinha pouco à rua. Se saía, ao regressar a casa, demorava muito tempo a subir a escada, arrastando-se degrau a degrau e parando nos patamares até chegar ao dela, asfixiada e resfolegante.
A casa onde habitava era grande, com um corredor longo e um pé-direito altíssimo, o que acentuava ainda mais a solidão e o vazio. Fria no Inverno (“um gelo”) e quente no Verão (“um forno”), tinha fendas e humidade nas paredes. Pouco a pouco, o que lá existia foi sendo vendido para fazer face à penúria. Restavam apenas os móveis indispensáveis e alguns objectos de grande estimação. A vida decorria ali em três divisões. A prima cozinhava e comia na cozinha, dormia num quarto interior, sentava-se na sala a costurar (era melhor dizer: a remendar), e, mais tarde, a ver televisão, ainda a preto e branco. Em tempos, tinha recebido, num quarto independente com porta para a escada, uma hóspede, mas zangaram-se logo, por causa das limpezas. Houve disputas e discussões. Ela nunca mais quis repetir aexperiência, lamentando-a: “Uma vez já me chegou. Não quero o inferno em casa!”
Na rua, vestia sempre de escuro (estava de luto por toda a gente e até por si própria). Usava uma roupa gasta, puída, fora de moda. Mas não se lhe descobriam nódoas. Tinha muito orgulho na sua limpeza. Gostava que dissessem: “É pobre, mas é muito asseada.” Os sapatos eram rasteiros e já deformados pelos anos e pelos passos. Em casa, usava chinelos, vestindo uma bata ou um robe, com o avental por cima. Aparecia assim a espreitar à janela (“para apanhar um pouco de ar”, esclarecia).
A prima pobre era a vergonha da família – e ela era a primeira a sentir o peso dessa vergonha. Tímida, modesta, fugidia, silenciosa, humilhavam-na e humilhava-se. Nunca estava à vontade em lugar nenhum. Sentia sobre si e a sua pobreza olhares de compaixão ou de reprovação. E não sabia qual deles preferir. Complexada, se pudesse tornava-se invisível. Esquecida, só se lembravam dela no Natal ou nos enterros. Nos baptizados e nos casamentos, ignoravam-na – a sua miséria estragava a “estética das cerimónias” e entristecia o que se queria alegre.
No Natal, chegava de eléctrico à casa dos parentes que a convidavam (“sempre é nossa prima”). Aparecia com um casaco que tinha sido da avó e, na mão, uma mala que tinha pertencido à mãe, com a peleja muito coçada pelo uso. Entrava e começava logo a pedir desculpa por ter vindo: “Não quero incomodar! Só vim para não fazer desfeita!” Colava-se à parede do corredor e ia para um cantinho da sala de estar. Sentava-se levemente, lentamente. Envergonhada, punha a mala sobre as pernas, tapando-a com as mãos para que não se visse o seu mau estado. Calada e enfiada, sorria. Tossia, com uma tosse seca e nervosa. Quando iam para a sala de jantar, era a última a entrar. Andava com passos pequeninos, como se estivesse sempre a mais. Destinavam-lhe um lugar na ponta da mesa, onde ficava apertada, entalada, desterrada, com as pernas magras a baterem nas pernas da mesa. Sentava-se na beirinha da cadeira. Comia pouco, com gestos tímidos, medidos, compostos. Hesitava a escolher os talheres e os copos. Gabava a comida com uma voz quase inaudível. Quando a convidavam a repetir, dizia: “Muito obrigado, mas fico bem assim!” E concluía: “Não estou habituada a comer tanto. Pode fazer-me mal.” Só nos doces abusava um bocadinho. Para festejar, até bebiaumas gotinhas de vinho do Porto ou de anis. No momento das prendas, abria o embrulho que lhe punham nas mãos trémulas e, perante a coisa insignificante que lhe destinavam (um lenço de assoar, uma chávena feia), exclamava, um pouco afogueada: “É tão bonita. Porque é que estiveram a incomodar-se comigo?! Eu não estou habituada a receber presentes. Ninguém me dá nada.”
A alegria crescia pela casa. Ela continuava ali, sentada na borda da cadeira, a olhar, com ar triste, aquele mundo que não era o dela. E a pedir desculpa por lá estar...
jmdossantos@netcabo.pt
colunista regular do "Actual"
in, 4 actual 19 Dezembro 2009 Expresso

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Mário Silva Freire

O BEM COMUM – 4
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A dimensão religiosa na educação para o bem do homem
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A educação é um dos campos onde a Igreja Católica põe o seu empenho. E isso deve-se ao facto de se considerar que a educação não é apenas uma forma de socializar a pessoa mas, principalmente, de a personalizar e de a formar para a cidadania. Mas, afinal, o que é educar? É proporcionar conhecimentos mas, também, organizar intelectual e emocionalmente as pessoas, hierarquizando saberes e integrando-os numa cultura, promovendo valores, em que os espirituais não fiquem arredados.
Estes foram alguns dos tópicos que foram abordados pelo Prof. Joaquim Azevedo no congresso promovido pela Conferência Episcopal, de que se tem vindo a falar em artigos anteriores, a propósito da construção do bem comum.
Ora, aquelas componentes que constituem o objectivo da educação terão, em primeira linha, que ser iniciados na família mas, depois, dadas as limitações desta em relação a alguns domínios, nomeadamente os de natureza intelectual, terá que delegar na escola parte da sua função. Mas isto não significa que a escola se deva preocupar apenas com esse domínio.
A educação escolar deveria ser uma experiência de desenvolvimento integral do aluno, em que cada um fosse respeitado e reconhecido e lhe fosse proporcionado o espaço e o tempo para a sua participação e crescimento individual, na sua interacção com os outros. Significa isto que educar não é apenas despejar meia dúzia de conceitos para dentro da cabeça dos alunos. Educar é nortear a actividade junto dos educandos por valores. E que espécie de valores? A educação para a liberdade, para o trabalho, para a responsabilidade solidária, para a verdade, para a exigência em relação a si próprio poderiam ser alguns deles. Mas, também, a dimensão religiosa do ser humano deveria ser uma componente dessa educação. Há que ensinar o aluno a interrogar-se sobre o sentido dos fenómenos que estuda e da vida e não, apenas, o como desses fenómenos. Há que convocar cada um, no dizer do Prof. Joaquim Azevedo, “para o desenho de uma história humana justa e fraterna, que coloque Jesus Cristo como horizonte para o qual os seres humanos caminham”. As escolas católicas têm incluído na sua acção esse objectivo. Mas, também, as escolas públicas poderiam encontrar espaços onde os alunos aprendessem o exercício dos valores atrás referidos, tendo em consideração o conceito de educação, definido no princípio. Talvez isso pudesse contribuir para se ter uma sociedade mais ética e nos desse mais competência para enfrentar as dificuldades do País!

Mário Freire
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in, O Distrito de Portalegre, 24 de Dezembro de 2009, p.12

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terça-feira, dezembro 22, 2009

"Davam grandes passeios aos domingos"

Capa da 1.ª edição (Dezembro de 1941)
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Capa da 2.ª edição (Com ilustrações de Lima de Freitas - 1960)

Capa da 3.ª edição (Incluída em "Histórias de Mulheres" - 1968)
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Edição de 'bolso' (s/d)
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Edição de 'bolso' (1995)
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Crónica de Nenhures

Amigos, conhecidos, e, os outros!…
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Este ano celebra-se os oitenta anos que o professor José Maria dos Reis Pereira chegou a Portalegre para leccionar no Liceu Nacional de Portalegre, onde ficou até à reforma em 1962.
Esta efeméride foi, de diversas formas, celebrada em Portalegre, por diferentes graus de ‘parentesco’.
Sabemos que se deve a António Martinó de Azevedo Coutinho a ideia de tal celebração, tal como sabemos que no ‘rescaldo’ dos actos públicos, ‘os do costume’, apresentando-se com um grau de parentesco muito ‘próximo’, ‘brilharam’ como só eles sabem.
O professor José Maria dos Reis Pereira não deixou, segundo o testemunho de Aurélio Bentes Bravo ao semanário Expresso, fortes recordações no seu múnus professoral. Por tal afirmação, Bentes Bravo foi na época alvo de acintosas contra-argumentações, com a particular curiosidade de as mais violentas virem de quem nunca fora Aluno de Reis Pereira, ao contrário de Bentes Bravo, e chegando-se mesmo ao ponto de gente que nem era nascida quando Reis Pereira faleceu opinarem com fluente quanto agressiva verve.
Que se diga que a generalidade dos ex-Alunos de Reis Pereira corroboram tudo o que foi dito ao jornal Expresso por Aurélio Bentes Bravo. E pode dar-se o seguinte exemplo acerca da dificuldade de Reis Pereira em comunicar, recorrendo a um CD com Poesia de José Régio declamada pelo próprio. A escrita do Poema é forte quando lida e interpretada, mas perde toda a beleza e força dita pelo Poeta.
Contudo, esta ‘dificuldade’ em nada diminui a grandeza da Poesia de José Régio, tal como a competência do professor Reis Pereira nunca foi posta em causa por nenhum dos seus ex-Alunos.
Politicamente, José Maria dos Reis Pereira não era da ‘situação’. Mas também não era da ‘oposição’.
Os da ‘situação’ sabiam que Reis Pereira não era ‘dos deles’, mas sempre o trataram bem, sendo José Régio presença contínua nos manuais oficias da disciplina de Português.
Os da ‘oposição’sabiam que Reis Pereira não era ‘dos deles’. Procuravam aliciá-lo, mas a ‘politica’ de Reis Pereira era a Poesia, a Prosa e o Ensaio ‘através’ de José Régio.
A grande ‘paixão’ de Reis Pereira foi sempre as ‘antiguidades’, e ‘estas’ os seus grandes e verdadeiros Amigos.
Cultivou Amizades em Portalegre. Mas poucas, recusando sempre a bajulação e a “corte”. Quando chegou a Portalegre, foi mais ‘tolerado’ que ‘aceite’. E essa situação deu origem á única novela que José Régio escreve passada em Portalegre, «Davam grandes passeios aos domingos».
Nela, é feroz a crítica que faz à sociedade de então, que não difere muito da actual. A hipocrisia é elevada a um expoente, que faz com que em Portalegre «Davam grandes passeios aos domingos» seja ‘esquecida’.
Quando já escritor consagrado, consagração alcançada por mérito e junto dos meios eruditos da época, ‘algo’ que não existia em Portalegre, passou nesta terra a ter um ‘estatuto’ que em tudo era contrário ao anterior. Mas José Maria dos Reis Pereira soube ser ‘melhor’ e maior que aqueles que agora o procuravam e que queriam mostrar que faziam parte do seu inner circle.
Mas se Reis Pereira detesta a sociedade portalegrense, também mostra um viver em Portalegre triste, amargo e duro. A «Toada de Portalegre» de José Régio ‘mostra’ uma cidade agreste, tão fria no Inverno e tão quente no Verão que ‘sufoca’. Tal como acontece hoje. Portalegre é uma terra em que a sua beleza está no florir de uma acácia; árvore que floresce no tempo dos dias pequenos, chuvosos e frios; árvore cujo amarelo da flor muito rapidamente se queima e perde a luz que emana.
Já reformado, José Maria dos Reis Pereira continua a não se entender com Portalegre, agora por outras razões, a da futura Casa Museu. A cidade nunca deixou de lhe ser madrasta. Portalegre nunca foi para Reis Pereira um ‘porto de abrigo’, um ‘refúgio’, mas sim uma ‘fatalidade’ que a sua profissão de professor provocou.
José Maria dos Reis Pereira quis no final da vida regressar à sua terra natal, e é em Vila do Conde que partiu para a Eternidade, e lá que estão os seus restos mortais. Quanto ao mais, teve por Portalegre Amigos, conhecidos e outros.
Mário Casa Nova Martins

CD - 1994

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Luís Filipe Meira


NATAL...

Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
'Stou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

Fernando Pessoa
in, Diário de Notícias Ilustrado, 30 de Dezembro de 1928
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Por que hoje é Natal…

Posto de Escuta
(…) Raramente me recordo dos sonhos. Mas parece-me que algumas canções são como sonhos na medida em que adormecemos quando elas principiam e acordamos quando terminam. Conduzem-te a qualquer lado. São uma forma de hipnotismo, as melhores (…)
Tom Waits
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Em escuta na Rádio dos Sonhos, 10 canções para ouvir, sonhar com as melhores ou mastigar e deitar fora as piores. É uma questão de gosto, mas…, atenção!, porque há bom e mau gosto…
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1 - Darlene Love / Phil Spector -
White Christmas

2 - Marvin Gaye - Christmas Song

3 - Jackson 5 - I Saw Mommy Kissing Santa Claus

4 - Supremes - Children's Christmas Song

5 - Smokey Robinson - Let it Snow, Let it Snow

6 - Bill Haley & The Comets - Jingle Bell Rock

7 - Bob Seeger -
Sock it to me Santa

8 - Canned Heat -
Christmas Blues

9 - Bob Dylan -
Chrismas Island

10 - Simon & Garfunkel - 7 O'Clock News / Silent NIght

Luís Filipe Meira

Portalegre - Coorpor

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Portalegre - Qualidade - Excelência

Portalegre - Tapada do Chaves

Portalegre - Qualidade - Excelência

Portalegre - Drinkport

Portalegre - Qualidade - Excelência

Portalegre - Almojanda

ALMOJANDA - Catálogo Natal 2009‏
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Cabazes de Natal ALMOJANDA
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Um presente ideal de produtos regionais…
celebre com os colegas, fornecedores, clientes, amigos e família!
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Com os melhores cumprimentos
Mª Teresa Mendes
Directora Comercial
Tlm: + 351 96 347 45 24
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Diterra – Comércio Agro-Industrial, Lda.
Herdade de Almojanda * Apartado 174
7301-901 Portalegre * PORTUGAL
Telef./Fax.: + 351 245 203 667
www.diterra.ptwww.almojanda.pt
E-mail:
comercial@almojanda.pt.
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Portalegre - Qualidade - Excelência

domingo, dezembro 20, 2009

Luís Filipe Meira

Porque hoje é Domingo...
Posto de Escuta
(…) Raramente me recordo dos sonhos. Mas parece-me que algumas canções são como sonhos na medida em que adormecemos quando elas principiam e acordamos quando terminam. Conduzem-te a qualquer lado. São uma forma de hipnotismo, as melhores (…)
Tom Waits
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Em escuta na Rádio dos Sonhos, 10 canções para ouvir, sonhar com as melhores ou mastigar e deitar fora as piores. É uma questão de gosto, mas…, atenção!, porque há bom e mau gosto…
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1 - Kraftwerk - Kometenmelodie 2
Autobah / 1974
2 - Editors - The Boxer
Is This Light and on This Evening / 2009
3 - Animal Collective - What Would I Want? Sky
EP Fall Be Kind / 20094 - Fuck Buttons - The Lisbon Maru
Tarot Sport / 2009
5 - João Aguardela - Homem Rico
Megafone IV / 2005
6 - Laura Veirs - Spike Drivers Blues
EP Two Beers Veirs / 2009
7 - Hope Sandoval - For the Rest of your Life
Through the Devil Softly / 2009
8 - B Fachada - Estar à Espera ou Procurar
B Fachada / 2009
9 - Samuel Úria - Não Arrastes o Meu Caixão
Nem lhe Tocava / 2009
10 - João Coração - Canção para Ficar
Muda que Muda / 2009

Luís Filipe Meira

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Encontro “Amigos de Régio”

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Crónica de Nenhures

Elas que venham!
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A facção do PSD do concelho de Portalegre que apoia a equipa autárquica liderada pelo independente presidente da Câmara Municipal de Portalegre, deu na sede do partido uma conferência de imprensa, na qual o mais importante que dela se tira é a ameaça de eleições intercalares para a CMP.
Contudo, o cenário de eleições intercalares para a CMP não é novidade. Logo que se conheceram
os resultados das autárquicas de 11 de Outubro passado, que a ircunstância de os portalegrenses irem às urnas antes do fim do mandato autárquico que se iria iniciar, era uma forte hipótese.
E se tal vier a acontecer, Portalegre e o seu concelho só têm a ganhar!
O desnorte, a par da incompetência do actual elenco social-democrata na CMP, é uma evidência, tal como, aliás,
já nesta ‘casa’ o dissemos. Portalegre não pode estar mais quatro anos com a falta de estratégia a todos os níveis que a actual liderança autárquica tem. É preciso que as Oposições diligenciem no sentido do actual Executivo cair com a não-aprovação do próximo Orçamento.
A próxima Assembleia Municipal tem que agir de forma que se criem as condições para as tais eleições intercalares, que a tal facção do PSD ameaçou na dita conferência de imprensa, e das quais irá sair derrotada. Para o bem de Portalegre e do seu concelho!
À Esquerda, o BE terá a oportunidade de, com uma candidatura credível, ver o seu espaço político representado, o PCP manterá o seu Vereador, enquanto o PS manterá os três que tem, mas terá a maioria relativa dos votos. À Direita, o CDS terá a grande oportunidade de voltar a eleger, em lista própria, um Vereador, enquanto crescerá em eleitos para a Assembleia Municipal.
Nesta altura, já o CDS terá feito internamente a análise detalhada dos resultados autárquicos no concelho de Portalegre. Dessa constatação, por certo percebeu por que perdeu oitocentos votos entre as legislativas e as autárquicas, e não quererá que tal situação se volte a repetir.
Mas o CDS tem que perceber que ‘não há almoços grátis’. E continuar a ser ‘muleta’ do PSD, para mais de uma das suas facções em Portalegre, aquela que é hoje a grande derrotada do dia 11 de Outubro de 2009, é erro que não pode cometer…
Pois, que se realizem eleições intercalares no concelho de Portalegre.
Mário Casa Nova Martins
in, Alto Alentejo, 16 de Dezembro de 2009, p. 4

Biblioteca Municipal de Portalegre

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Agradecemos e retribuímos os Votos de Boas Festas.
Mário Casa Nova Martins

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Mário Silva Freire

O BEM COMUM – 3
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O lugar da religião
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Que relação tem a religião com o bem comum? Pode dizer-se que todas as comunidades religiosas buscam o bem comum. Este, no entanto, não se limita a proclamar direitos mas alarga-se aos deveres, na posição em que cada um se encontra. É no dar consciência desses deveres e desses direitos e fazê-los convergir para o bem colectivo que o papel da religião, muitas vezes, emerge.
A busca do bem comum tem que ser feita, tendo presente o valor da caridade. Se hoje se fala na laicidade do Estado, ela até pode ser vista como um aspecto positivo, na medida em que deixa espaço aberto à sociedade, devendo o Estado respeitar as especificidades dos diferentes elementos que a constituem. Ora, dentro das variadas confissões religiosas, de que a Igreja Católica é um bom exemplo, existem múltiplas organizações que, tentando fazer face às injustiças sociais e às contingências traumáticas da vida, se empenham em ajudar as pessoas nos mais variados aspectos das suas existências. Elas trabalham, dando valor à dignidade humana, contribuindo para que a pessoa não seja apenas um número, um objecto que pode ser descartável. Elas tentam dizer que os pobres têm direito àquilo que os outros têm a mais. Elas procuram seguir o preceito evangélico da caridade, para a construção do bem comum.
Mas será que uma sociedade sem Deus iria contribuir para essa construção? Se esse tipo de sociedade fosse construído, o horizonte da esperança ficaria fechado, no dizer de D. José Policarpo no Congresso da Conferência Episcopal. Deus tem que ter lugar na esfera pública e, muito especialmente, na política. Esta ficaria mais pobre e os direitos humanos mais diminuídos se Deus dela fosse excluído. Nessa exclusão perder-se-ia muito de uma educação humanizante que conduz a “projectos pessoais e comunitários que realizam, em cada tempo, a perene grandeza do homem”, como afirmou o conferencista.
Torna-se, pois, necessário que as sociedades e o Estado reconheçam o papel das religiões. Estas, dando importância a uma dimensão da vida das pessoas – a espiritual – e considerando os aspectos éticos que dessas religiões decorrem, contribuem para que todos os que intervêm no desenvolvimento de uma sociedade (Estado, empresas, meios de comunicação social…) adquiram uma maior consciência das consequências daquilo que fazem. A religião é, pois, um poderoso factor da edificação do bem comum.

Mário Freire

in, O Distrito de Portalegre, 17 de Dezembro de 2009, p.12

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O BEM COMUM – 2 / O papel do Estado

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O BEM COMUM – 1 / A caminho de um novo modelo social

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quarta-feira, dezembro 16, 2009

Escola Superior de Educação de Portalegre

Encontro
José Régio, a Literatura e o Cinema: diálogos e encruzilhadas
Escola Superior de Educação de Portalegre
17 de Dezembro de 2009

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No âmbito das Comemorações dos 80 anos da chegada de José Régio a Portalegre, a Escola Superior de Educação de Portalegre promove um encontro destinado a revisitar os diálogos e as encruzilhadas que o escritor teceu na sua vida e na sua obra literária.
José Régio assume-se, enquanto criador literário, como um individualista, marcado pelo imaginário cristão e pelo tormento da angústia. A sua escrita procura encontrar um espaço de diálogo com outras expressões artísticas como a pintura e a música. Como crítico e historiador literário, José Régio fornece à crítica sistemas de abordagem e critérios de avaliação teoricamente bem sustentados, acompanhando, de perto, as linhas de leitura mais avançadas do seu tempo.
As relações de Régio com o universo cinematográfico são variadas e revelam-se muito ricas em percursos e intersecções, criando, em distintos níveis, laços e simbioses que perpassam os seus itinerários pessoais e criacionais. O “caso” (de) Régio com o Cinema distingue-se, com evidência e prova empírica, nos textos que produziu, na relação que estabeleceu com realizadores (destacamos, naturalmente, Manoel de Oliveira e Lauro António), e nos filmes e documentários que inspirou.
Com este encontro, a ESEP presta homenagem ao homem e ao escritor que incorporou Portalegre na sua alma e que viveu (n)a palavra e (n)a imagem em diálogo e em encruzilhada.
A Comissão Organizadora,
Luís Miguel Cardoso
Sérgio Silva
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Comemorações dos 80 anos da chegada de José Régio a Portalegre
[1]
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Encontro
José Régio, a Literatura e o Cinema: diálogos e encruzilhadas
Escola Superior de Educação de Portalegre
17 de Dezembro de 2009
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Programa
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10.00Sessão de Abertura
10.15José Régio: a letra e a Literatura
“O jogo modernista de José Régio: o esquecimento e a importância”
Eunice Cabral (Universidade de Évora)
“José Régio em Portalegre: uma solidão propícia?”
Fernando J. B. Martinho (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
Moderador – Sérgio Silva (ESEP)
11.30Pausa para café
11.45José Régio e o Cinema: um caso cor de fogo
Lauro António (realizador do filme “O vestido cor de fogo”)
“Régio e o Cinema”
Sérgio Guimarães Sousa (Universidade do Minho)
Moderador – Luís Miguel Cardoso (ESEP)
13.00Sessão de Encerramento
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[1] As comemorações são promovidas pela Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Portalegre, pela Escola Secundária Mouzinho da Silveira – Portalegre, e pela Escola Básica 2.3 José Régio – Portalegre.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Os 125 anos da Escola Industrial de Portalegre I

Os 125 anos da Escola Industrial de Portalegre (3/12/1884 – 3/12/2009)
Edifício onde se instalou a Escola de Desenho Industrial Fradesso da Silveira
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No decreto de 20 de Dezembro de 1864, reforma de João Crisóstomo de Abreu e Sousa do ensino industrial, reformando-se os institutos industriais de Lisboa e Porto, e reconhecendo-se que para salvar a indústria nacional, já então ameaçada, era necessário preparar operários e não limitar a instrução técnica a mestres e directores de fábricas, prometia-se a criação de escolas industriais em Guimarães, Covilhã e Portalegre.
O projecto de lei n.º 116-A., apresentado em cortes pelo Ministro do Reino, no ano de 1882, repetia a promessa de estabelecimento de escolas industriais em Guimarães; Covilhã e Portalegre.
Pelo decreto de 6 Maio de 1884, é aprovado o regulamento geral das escolas de desenho industrial, objectivando-se o currículo a desenvolver em cada um delas e ficando-se a saber a sua localização. Portalegre é então uma das cidades escolhidas.
Para que tal, finalmente, acontecesse, muito ficou devido ao então deputado pelo círculo de Portalegre Augusto Maria da Fonseca Coutinho, e também ao então ministro das obras públicas do governo de Fontes Pereira de Melo, António Augusto de Aguiar.
Em Setembro de 1884, Francisco da Fonseca Benevides, inspector das escolas industriais da circunscrição do sul, vem a Portalegre a fim de preparar a instalação da escola, alugando para esse fim por conta do governo a casa do sr. Malato, situada na rua de Elvas e com dois andares.
Pela mesma altura, é determinado ministerialmente que a nova escola de desenho industrial de Portalegre tenha o nome de “Fradesso da Silveira”.
Desde meados de Outubro que começam a chegar caixotes com utensílios e mobília para a escola industrial.
Em Novembro é nomeado professor de desenho Manuel Henrique Pinto, que chega a Portalegre a 13 desse mês. Segundo determinava o despacho de nomeação, a disciplina será regida por um professor de nomeação do governo, precedendo concurso. Este professor terá o vencimento de 500$00 réis anuais, e será equiparado em categoria, prerrogativas e vantagens, aos professores dos liceus.
E na quarta-feira 3 de Dezembro de 1884, inicia formalmente os seus trabalhos a Escola de Desenho Industrial Fradesso da Silveira, em Portalegre.
Estabeleceram-se dois cursos, um diurno para menores e outro nocturno para adultos, o primeiro com 12 alunos matriculados e o segundo com 30, havendo tanto num como noutro vários suplentes que foram preenchendo a falta dos matriculados.
O primeiro ano lectivo decorreu sem qualquer incidente, e no final, sábado dia 18 de Julho de 1885, realizaram-se os exames, seguindo-se à noite a entrega de prémios e diplomas, e perspectivando-se para o segundo ano a presença de alunos do sexo feminino.
De então para cá, ao longo de cento e vinte e cinco anos, muitas transformações se passaram entre a Escola de Desenho Industrial Fradesso da Silveira e a Escola Secundária de São Lourenço, a sua ‘herdeira’.
Neste momento em que se celebra o 125.º aniversário, este bosquejo da sua história permite lembrar que um dos seus Alunos mais brilhantes pertence ao curso de 1884/85, o pintor Bemvindo Ceia.
O actual nome da escola nada diz à sua história, refere somente o nome da freguesia onde está geograficamente inserida. E o prestígio que a escola hoje desfruta, não condiz com o seu nome.
Por que não, as suas ‘forças vivas’ pugnarem para ser dado o nome de Bemvindo Ceia à escola?
Mário Casa Nova Martins
Bibliografia:
Alves, Luís Alberto Marques – Os Professores e o Ensino Industrial na Segunda Metade do Século XIX, Estudos em Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004, p. 131 - 141
Costa, Mário Alberto Nunes, – O Ensino Industrial em Portugal de 1852 a 1900 (Subsídios para a sua história), Lisboa, Academia Portuguesa da História. MCMXC.
O Distrito de Portalegre – N.º 20 – 7 de Setembro de 1884, a N.º 65 – 22 de Julho de 1885
Raposo, Abrantes – Manuel Henrique Pinto, Vida e Obra. Ensaio Bio-Iconográfico, Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, Almada, 2002

Os 125 anos da Escola Industrial de Portalegre II

Joaquim Henriques Fradesso da Silveira
(Lisboa, 14 de Abril 1825 – Lisboa, 26 de Abril de 1875)
Foi determinado o nome de Fradesso da Silveira à Escola de desenho técnico de Portalegre.
Filho do cirurgião de divisão reformado António Henriques da Silveira, Joaquim Henriques Fradesso da Silveira sentou praça com dezasseis anos de idade, em 1841, e seguiu o curso da armada com muita distinção. Logo que saiu guarda marinha, passou para o exército, sendo promovido a alferes (1844), a tenente (1849), a capitão (1851) e a major (1873).
Foi Lente de Física e Química na Escola Politécnica de Lisboa aos dezanove anos de idade, vindo a ser também Director do observatório meteorológico da mesma escola.
Teve o título do Conselho de sua majestade; a Grã-cruz da Ordem de Cristo; a Comenda de S. Tiago; o grau de Cavaleiro da Ordem de Avis; a Grã-cruz da Ordem de Francisco José, da Áustria; a Comenda da ordem da Rosa, do Brasil, entre outras distinções. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa, e de outras corporações literárias e científicas do país e do estrangeiro.
Fundou e foi presidente da Associação Promotora da Indústria Fabril, e sócio honorário das Associações Comerciais de Lisboa e do Porto.
Desempenhou muitas e importantes comissões de serviço público, de entre elas a de chefe da antiga Repartição de Pesos e Medidas, a de membro do Conselho Geral das Alfândegas e do Conselho Geral do Comércio e Indústria, e a de comissário régio de Portugal na exposição de Viena de Áustria, em 1873.
Escreveu, entre outras obras, As fabricas em Portugal. Inquerito de 1862 1863. Indagações relativas aos tecidos de lã (Lisboa, 1864); Conselho geral das alfandegas. Inquerito de 1862 1863. Indagações relativas aos tecidos de seda (Lisboa, 1864); Relatorio do serviço do observatorio do infante D. Luiz no anno meteorologico de 1863 1864 (Lisboa, 1864); Visitas á exposição de 1865. Segunda edição (Lisboa, 1866); Catalogo da exposição industrial de 1863 (Lisboa, 1863); Sessão real da distribuição dos premios em 19 de junho de 1864 (Lisboa, 1864); A liberdade do commercio e a protecção das industrias (Lisboa, 1862); As fabricas de papel.
Colaborou no Jornal do commercio, Gazeta do povo, Paiz, Diario de noticias e outros periódicos. Fundou a Gazeta das fabricas, revista patrocinada pela associação promotora da indústria fabril e o Diario mercantil, folha política e comercial de grande formato.
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Manuel Henrique Pinto
(Cacilhas, 2/4/1852 – Figueiró dos Vinhos, 26/9/1912)

Retratado por Columbano em 1885, figurando na obra “O Grupo do Leão”

Filho de Francisco Jorge Pinto e de Sebastiana Rosa, pintor paisagista, Manuel Henrique Pinto estudou na Academia de Belas-Artes de Lisboa, onde foi aluno de Tomás da Anunciação e Simões de Almeida.
Amigo de José Malhoa e seu companheiro no “Grupo do Leão”, está retratado no famoso quadro de Columbano Bordalo Pinheiro juntamente com outros membros do grupo.
Expôs, entre outros sítios em Portugal, na Sociedade Promotora de Belas-Artes, no Grémio Artístico, no “Grupo do Leão”, e na Sociedade Nacional de Belas-Artes. Participou na Exposição Universal de Paris (menção honrosa, 1900), na Exposição Internacional do Rio de Janeiro (medalha de ouro, 1908) e em exposições na Alemanha e Espanha.
Acabou o seu curso entre 1874/1875, e em 1884 é nomeado Professor da cadeira de desenho industrial na Escola de Desenho Industrial Fradesso da Silveira, onde permaneceu até ao final do ano lectivo de 1887/88.
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Método e Programa – Ano lectivo 1884/85
O método de ensino é sobretudo lógico, natural e progressivo.
Os alunos principiam por copiar da pedra os desenhos feitos sobre quadricula pelo professor, recebendo simultaneamente as noções de desenho elementar em ordem a formarem perfeita ideia do que sejam pontos, linhas, superfícies, volumes, etc., das respectivas propriedades, relações, etc., etc.
Chegados a um certo grau de adiantamento passam a desenhar de modelo de madeira as diferentes figuras planas e em seguida recebem noções de perspectiva prática com o estudo e pela cópia de figuras de arame.
A este estudo sucede o do claro escuro, cópias de gesso, com dificuldades proporcionalmente progressivas, desenhando também pela mesma forma vários objectos de uso comum.
Constituem estas matérias o curso de desenho elementar preparatório do industrial que deve prosseguir.
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Exames – Ano lectivo 1884/85
O curso de desenho elementar foi subdividido em duas partes: a 1.ª elementar linear, a 2.ª sombras e noções de perspectiva prática.
As provas dos primeiros exames consistiram:
Na cópia de uma figura geométrica plana, modelo de madeira, desenhado em papel Ingres;
Na cópia em papel stigomographico de um desenho feito na pedra pelo professor;
Nas definições das figuras geométricas planas com indicações gráficas na pedra.
As provas dos exames completos foram as mesmas mais as seguintes:
Cópia de uma figura geométrica de arame, de três dimensões;
Cópia de um objecto de gesso a claro escuro;
Cópia de um objecto de uso comum pela mesma forma;
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Notas e Prémios – Ano lectivo 1884/85
Resultados dos exames:
Primeira parte separadamente, os srs. José da Conceição Callado, Francisco Martins Pernes e José Luiz Serra 14 valores; Joaquim Maria Cara d’Anjo 12; José Lourenço d’Almeida 11; João Manuel Mergulhão Capellas e Francisco António de Brito 10.
Curso elementar completo, os srs. Sebastião Victorino Bragança 17 valores; Bemvindo António de Ceia e José Maria Lacerda 16; Francisco Augusto Castello, João António Figueira, José Mafra Vá-com-Deus e João Diogo Malato 15; José Maria Castello, Manoel Francisco dos Reis, Vicente César de Lacerda e António de Andrade Sequeira 14; António Maria Roldão e Júlio César Ennes de Almeida 13; Manoel Dias 12; Francisco Maria Vasco 11; José Maria Cordeiro, João Augusto Charaes e António Maria de Mattos 10.
Prémios e respectivos diplomas:
A Sebastião Victoriano Bragança, carpinteiro, 8$000 réis.
A Bemvindo António de Ceia e José Maria Lacerda, estudantes, 6$000 réis a cada um.
A Francisco Augusto Castello, marceneiro, João Augusto Figueira, serralheiro, João Maria Vá-com-Deus e João Diogo Malato, estudantes, 5$000 réis a cada um também.